Engarrafamentos:
o futuro que o governo planeja
18/04/13
Artigo de Fábio Feldmann - Consultor em sustentabilidade
É
impossível deixar de comentar as declarações da presidente da
Petrobras, Graça Foster, em entrevista recente ao jornal Zero Hora
(13/04/13): "Acho lindo engarrafamento. Meu negócio é vender
combustível".
Elas
refletem o aspecto de sinceridade de uma pessoa que ocupa um dos mais
cobiçados postos da República: a estatal tem orçamento maior que
muitos ministérios, estados e capitais brasileiras, sendo também a
maior compradora de bens e serviços do mercado.
Vale
lembrar que a madrinha de Graça é nada mais, nada menos que a
Presidente Dilma.
A
Petrobras, na gestão de seu ex-presidente, enfrentou uma polêmica
importante com ambientalistas ao se negar a cumprir a Resolução do
Conama 315/2002, que garantia a disponibilidade de um diesel com
menor teor de enxofre.
Após
a exclusão da empresa do ISE - Índice de Sustentabilidade
Empresarial da Bovespa e da retirada, pelo Conar - Conselho Nacional
de Autorregulamentação Publicitária, de publicidade que afirmava
seus "atributos ambientais", houve um acordo judicial que,
enfim, obrigou a empresa a respeitar a legislação ambiental
brasileira.
É
importante lembrar que o Conselho de Administração da Petrobras à
época era exercido pela Presidente Dilma Roussef, o que significa
que a mesma participou direta ou indiretamente das decisões
administrativas tomadas naquele período.
Recentemente,
a prefeitura de São Paulo promoveu radicais mudanças no Programa
Paulistano de Inspeção e Manutenção Veicular com grave
repercussão à saúde da população, a pretexto de garantir uma
economia de R$ 0,12 por dia aos paulistanos proprietários de
automóveis e uma economia de no máximo duas horas anuais para a
realização do teste de inspeção.
Redução
de impostos dos automóveis e facilitação do crédito completam a
obra do governo federal que está transformando, a cada dia, as
nossas cidades em "grandes estacionamentos ambulantes". E
com o beneplácito explícito da oposição, se é que ela existe.
Bandeiras
a favor de transporte público barato, eficiente e não poluidor não
encontram ressonância entre os principais partidos políticos do
país.
Como
consequência, nos aproximamos de novos tempos nos quais o rodízio
de automóveis será implantado em praticamente todas as cidades
médias brasileiras, pela falta de outra alternativa que permita a
mobilidade mínima nos sistemas viários destas cidades.
A
minha geração era portadora de uma esperança ingênua de que a
democracia abriria as portas para a discussão de políticas
públicas, que permitissem uma melhoria na qualidade de vida dos
brasileiros. E, mais do que isso, assegurar às futuras gerações
melhores oportunidades em termos de saúde, educação, segurança e
sustentabilidade.
Mas,
o que temos constatado é uma substituição incontestável de uma
visão necessária de médio prazo por políticas de impacto
imediato, que comprometem o futuro. Qualquer futuro.
Graça
Foster revelou, na sua sinceridade, o que o governo federal planeja
para as nossas cidades: um caos urbano comprometendo as nossas vidas.
Fábio
Feldmann é consultor em sustentabilidade
Nenhum comentário:
Postar um comentário