segunda-feira, 31 de março de 2008

Poema Pablo Neruda

O TEU RISO
(Pablo Neruda)

Tira-me o pão, se quiseres,
Tira-me o ar,
Mas não me tires o teu riso.
Não me tires a rosa, a lança que desfolhas,
A água que de súbito brota da tua alegria,
A repentina onda de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura
E regresso com os olhos cansados às vezes por verque a terra não muda,
Mas ao entrar teu riso sobe ao céu a procurar-me
E abre-me todas as portas da vida.
Meu amor, nos momentos mais escuros
Solta o teu riso e se de súbito vires que o meu sangue mancha as pedras da rua, ri,
Porque o teu riso será para as minhas mãos como uma espada fresca.
À beira do mar,
No outono,
Teu riso deve erguer sua cascata de espuma,
E na primavera, amor,
Quero teu riso como a flor que esperava,
A flor azul, a rosada minha pátria sonora.
Ri-te da noite, do dia, da lua,
Ri-te das ruas tortas da ilha,
Ri-te deste grosseiro rapaz que te ama,
Mas quando abro os olhos e os fecho,
Qando meus passos vão,
Quando voltam meus passos,
Nega-me o pão, o ar, a luz, a primavera,
Mas nunca o teu riso,
Porque então eu morreria.