domingo, 16 de dezembro de 2012

O nordeste de Luiz Gonzaga



O programa Via Brasil, da Globo News, apresentou na tarde deste domigo, reportagem especial sobre Luiz Gonzaga e o mundo e personagens de sua obra. A  região semi-árida, sua cultura e seu povo, com a trilha sonora de um de seus maiores representantes, ele foi um verdadeiro embaixador do povo nordestino. Luiz Gonzaga - o rei do baião - foi um gigante da cultura brasileira, cantou e mostrou ao mundo a vida e a natureza do nordeste: vegetação, fauna, retirantes, seca, religiosidade, folclore, vaqueiros, etc. Cantou o povo sertanejo com sua fé, alegrias e dificuldades. Luiz Gonzaga tornou-se parte da cultura universal sendo um autêntico nordestino. Sua música é uma maravilha!

Merece elogio a reportagem de Franciso José, um jornalista qualificado, experiente e conhecedor das coisas no nordeste, que já retratou em muitos outros trabalhos jornalísticos. É um dos tantos bons jornalistas brasileiros.

Sobre esta relação do Luiz Gonzaga com o nordeste, penso que se as escolas rompessem com a visão tradicional (decoreda e disciplinar) deveriam utilizar de recursos didáticos/pedagógicos (como da reportagem, do vínculo de Luiz Gonzaga ao seu mundo concreto) para mostrar/problematizar a realidade de forma multidisciplinar, com enfoque social, econômico, ambiental, geográfico, histórico, sociológico e artístico do nordeste brasileiro. Imaginem uma aula para além das disciplinas, ao som de Luiz Gonzaga, com direito às danças de forró em sala de aula, aprendendo sobre cultura e geografia desta região tão importante para a cultura do Brasil. Refletindo e aprendendo, inclusive, sobre a arte de ter alegria, esperança e fé, mesmo diante da dura realidade e de tamanhas dificuldades que esse povo tem enfrentado na vida. Poderia ser muito bom para os riquinhos e uma certa classe média que costuma reclamar de tudo e se mostram resistentes à mudanças de hábitos para que todos tenham acesso ao básico para viver (ou até sobreviver) e o planeta seja ecologicamente sustentável (viável).


Demilson Fortes
Porto Alegre/RS, 16 dezembro 2012.


quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Ana Maria Primavesi, uma merecida homenagem


O Governo do Rio Grande do Sul, atendendo proposta das entidades agroecológicas e ecologistas, fará homenagem outorgando a Medalha Negrinho do Pastoreio à Ana Maria PrimavesiO deputado estadual Edegar Pretto (PT) foi o porta-voz das entidades junto ao governador Tarso Genro da proposta dos movimentos e entidades.

A solenidade será no dia 20 de dezembro de 2012, às 14h30min, no Palácio Piratini, em Porto Alegre/RS. 



SOBRE ANA MARIA PRIMAVESI 



O solo sempre me fascinou, porque do solo dependem as plantas, a água, o clima. Tudo está interligado. Não existe ser humano sadio se o solo não for sadio e as plantas bem nutridas” - Ana Maria Primavesi



A frase acima sintetiza o pensamento e a vida de Ana Maria Primavesi. Essa mulher fascinante, nasceu na Áustria em 1920, depois veio para o Brasil, onde mora desde 1949. Chegou ao país juntamente com seu marido, já falecido, Artur Primavesi, com quem casou em 1946. Ele também foi professor e pesquisador.

Austríaca, naturalizada brasileira, é Engenheira Agrônoma, formada pela Universidade Rural de Viena, com doutorado pela mesma universidade em Nutrição Vegetal e Produtividade do Solo. Foi professora-adjunta da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), onde lecionou Manejo do Solo e Nutrição Vegetal. Foi diretora do Laboratório de Química do Solo e fundou o Laboratório de Biologia do Solo nesta universidade.

Ana Maria Primavesi foi uma agrônoma que inovou profundamente na ciência do solo, assumindo uma perspectiva ecológica e superando a visão reducionista predominante da Revolução Verde, que concebia a fertilidade dos solos baseado nos insumos químicos pelo uso intensivo de adubos minerais solúveis (nitrogênio, fósforo e potássio) e na mecanização agrícola com a prática do revolvimento (com aração e gradagem) do solo. Ana Primavesi afirmou que a aração dos solos na região dos trópicos era um grande equívoco, e que os adubos e agrotóxicos levam ao empobrecimento dos solos, que por sua vez, abrem para desequilíbrios e doenças e pragas e mais agrotóxicos. Para a pesquisadora, plantas equilibradas nutricionalmente, solos ricos em matéria orgânica e biologicamente vivos, dão as condições para uma agricultura produtiva sustentável ao longo do tempo.

Dedicou a sua vida profissional a pesquisar e divulgar conhecimentos sobre os processos biológicos dos solos que dão suporte para os ecossistemas e para uma agricultura produtiva e sustentável. Foi uma das pioneiras na defesa da agricultura ecológica no Brasil, criticando o uso de agrotóxicos e advertindo para os efeitos nocivos do manejo inadequado dos solos tropicais e do uso de insumos químicos.

Além de professora e pesquisadora, Ana Maria Primavesi, foi ativista da agricultura ecológica e agricultora. Nestas últimas décadas fez palestras, deu cursos, participou de conferências e assessorou agricultores e entidades. Após ter se aposentado da UFSM, dedicou os últimos 32 anos a atividades agrícolas numa propriedade rural particular localizada no Estado de São Paulo, onde produziu de forma ecológica, fez das suas experimentações agroecológicas um laboratório vivo de interação entre produção agrícola e natureza. Foi uma das fundadoras da Associação da Agricultura Orgânica (AAO) e uma das vozes que deu impulso aos movimentos agroecológicos da América Latina, que associaram organização política com ecologia, desenvolvimento social e agricultura.

É autora de vários textos, artigos científicos e livros. Destaca-se o livro “Manejo Ecológico dos Solos: a agricultura em regiões tropicais”, fonte de pesquisa e orientação teórica para milhares de técnicos, pesquisadores e agricultores, que na definição do professor Manoel Baltazar Baptista da Costa, da UFSCar, é “obra prima da pedologia brasileira que viria a revolucionar os conceitos até então dominantes”.

Neste ano (2012), recebeu o “One Word Award”, principal prêmio da agricultura orgânica internacional, conferido pela Internacional Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM).

Ana Maria Primavesi, deu ao Brasil e ao mundo uma das maiores contribuições para a construção de uma nova concepção de produção agrícola, hoje amplamente disseminada e conhecida pelo conceito de agricultura sustentável. No Brasil, ao lado de outras pessoas, ajudou decisivamente para a chamada “agricultura alternativa” dos anos 80 ser alçada à condição de realidade produtiva pela concretização na existência de feiras ecológicas, associações e cooperativas, redes e movimentos de agroecologia. Ela foi incentivadora e referência para muitos militantes sociais, ONGs, movimentos do campo, ativistas do ecologismo popular e do socioambientalismo, de estudantes e profissionais das universidades, de técnicos, pesquisadores e de consumidores.

Os movimentos de agroecologia do Brasil, da América e de outros continentes reconhecem Ana Maria Primavesi como uma das maiores referências da agrocologia e que deve receber a nossa gratidão e homenagem por tudo que fez e ainda continua fazendo, apesar de seus 92 anos de vida.

Por tudo isso, propomos ao Governador Tarso Genro uma homenagem para agradecer e comemorar a existência desta lutadora. Sugerimos, dentre outras possibilidades, a medalha Negrinho do Pastoreio (Decreto Estadual nº 21.669/72) de reconhecimento do Rio Grande do Sul à Ana Maria Primavesi pela alta relevância de sua obra, atuação profissional e existência humana para a bem da sociedade brasileira e pela sustentabilidade global.



São proponentes da homenagem, juntamente com o mandato do deputado Edegar Pretto (PT), entre outras entidades e movimentos, as elencadas abaixo:

Rede Ecovida de Agroecologia
Centro Ecológico
CEA - Centro de Estudos Ambientais
AGAPAN – Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural
CETAP – Centro de Tecnologias Alternativas Populares
CAPA – Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor
AECIA – Cooperativa dos Agricultores Ecologistas de Ipê e Antônio Prado
Fundação Gaia
MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
APEDEMA – Assembléia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente
ECOCAXIAS – Associação dos Ecologistas de Caxias do Sul
Feira Ecológica de Caxias do Sul
Feira dos Agricultores Ecologistas da Avenida José Bonifácio
CONATERRA



quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Desenvolvimento sustentável é sem agrotóxicos



Desenvolvimento sustentável é sem agrotóxicos

Adão Villaverde

Durante audiência pública promovida pela Comissão de Agricultura, nesta semana, a Assembleia Legislativa gaúcha voltou ao tema polêmico e recorrente da alteração da “Lei dos Agrotóxicos” que vige desde 1982 no Rio Grande, estabelecendo uma legislação inovadora que serviu de referência para outros estados.

Ao longo do encontro recordei de um livro, cuja leitura recomendo, do economista Paul Gilding, “A Grande Ruptura”, que prega a reconsideração de nossos valores de progresso. Em ambos os casos o pano de fundo é um só: o conceito de desenvolvimento que queremos para o presente e para as futuras gerações.

Quanto à lei que completará 30 anos no dia 22 de dezembro, mais uma vez defendem sua “flexibilização”, principalmente no que diz respeito ao artigo que exige a comprovação de autorização de uso do produto em seu país de origem. Querem que um produto cuja utilização é proibida na nação onde foi fabricado tenha seu uso liberado em solo gaúcho. Exemplo: um produto de alta toxidade e contaminação do meio ambiente já foi banido nos EUA, mas continua com seu uso liberado no resto do Brasil. O fabricante norte-americano exporta praticamente toda produção para nosso país, que ostenta a duvidosa posição de campeão mundial de consumo de agrotóxicos. E somente por conta da atual legislação é que o RS está protegido dos riscos do seu uso proibido em território riograndense.

A lei contempla cuidados com a saúde, com a produção de alimentos com qualidade e a defesa do meio ambiente, além de servir de elemento importante para a construção de uma visão de sustentabilidade que projetou o RS. É por causa da sua enorme importância, que propomos uma homenagem aos 30 anos de vigência da Lei nº 7.747 de 22/12/1982 e, a partir do ano que vem, uma Campanha de Divulgação e Promoção da Lei ao ingressar em sua quarta década em vigor.

Recentemente, me deparei, pelas redes sociais, com uma entrevista do economista André Lara Resende, um dos “pais do Plano Real”, que disparou a mesma tese de Gilding: ”temos que rever o que consideramos progresso”.Coincidência ou não, mas vindo de um dos formuladores da teoria de que, diante da evolução da crise econômica mundial, a saída era sustentar que somente a adoção de planos de austeridade seria capaz de acalmar os mercados, não deixa de ser uma enorme autocrítica, mas sobretudo uma grande e talvez fundamental novidade.

É claro que não devemos ser ingênuos. Rezende também escreve isso para demarcar com a visão desenvolvimentista, que defende que os governos façam fortes investimentos e dirijam os chamados “gastos públicos” para estimular o crescimento e o desenvolvimento, em curso hoje no Brasil. Que, aliás, foi fundamental para que pudéssemos atravessar ao menos em melhores condições que outros países, a crise mundial.

O que fez o criador do Real foi se ancorar na tese de Gilding, que propugna “a ruptura com a economia que conhecemos, do consumismo desenfreado, de um estilo de vida e de um modelo de desenvolvimento econômico que não medem o impacto nos recursos finitos do planeta”, qual seja, crescer a qualquer custo, mesmo que sem sustentabilidade.
O que talvez deve se ressaltar, aqui, é que ainda há margens significativas para aplicabilidade do modelo desenvolvimentista em países como o Brasil e outros, mas que, de fato, não existe mais nos chamados países centrais. Mesmo que exemplos sejam reducionistas, o Japão é um deles: não cresce há mais de 15 anos.

Portanto, a decorrência fundamental que devemos tirar da tese de Gilding, chancelada por Resende, é que mesmo com margem ainda para crescer, apostando somente nesta lógica, poderemos estar indo para o mesmo caminho dos países centrais e vamos esbarrar, sim, nos limites físicos do planeta. E como diz o economista, “a recusa de ver e agir em relação aos limites ecológicos, vai nos levar a um desordenamento e para um processo bem mais oneroso” do que se tivéssemos sidos capazes de nos preparar para abordar o desenvolvimento a partir de um novo ângulo e com sustentabilidade.

Portanto, o modelo sustentável é aquele em que o bem-estar passa pela inclusão, coesão social, renda, qualidade de vida, menor desigualdade, cuidado com as pessoas, com as cidades com os alimentos, com água, com energia renovável e a defesa do planeta. E não pela mera lógica desenfreada de consumo, com um fim nela mesmo.

É tempo de recuperar e atualizar a noção da nossa geração e das que nos seguirão acerca de por onde devemos caminhar. Precisamos redescobrir uma verdadeira consciência para um padrão de desenvolvimento de novo tipo, do contrário os limites físicos do planeta se excederão.
Ser contra a flexibilização da lei dos agrotóxicos é ser a favor do meio ambiente, da qualidade dos nossos alimentos, solos e água. Ser contra a alteração dessa lei é ser a favor de um novo modelo de desenvolvimento. É ser, portanto, a favor da própria vida.

E a recusa de ver e agir e mesmo a coragem de romper com o modelo de desenvolvimento produzido e reproduzido pela modernidade, poderá estar nos conduzindo, todos juntos, para a ante-sala do colapso do planeta e, portanto, para o mesmo naufrágio.

Adão Villaverde é engenheiro, professor, deputado, ex-presidente AL/RS


A Lei Gaúcha de Agrotóxicos



A  Lei Gaúcha de Agrotóxicos – trinta anos de resistência

Gilmar Zolet Vieira

A Lei Estadual nº 7.747, de 22 de dezembro de 1982, está completando trinta anos. Ela representa um marco histórico na regulamentação de agrotóxicos no Rio Grande do Sul e no Brasil. Nossa lei gaúcha dos agrotóxicos é pioneira, depois dela, e referenciadas nela, vieram a Lei Federal nº 7.802, de 11 de julho de 1989, e as leis de outros estados da federação.

Nestes trinta anos, muitas foram as tentativas de modificar, alterar, derrubar, flexibilizar a lei gaucha de agrotóxicos porém, até hoje, nenhuma delas prosperou, o que se constitui também num marco histórico atestando o acerto no texto da lei à época bem como a força das organizações que neste tempo à defenderam e sustentaram, atentos a necessidade de controle e cuidado com a saúde pública, a qualidade dos alimentos e com o meio ambiente.

Neste ano de 2012, novamente enfrentamos tentativas de flexibilização, dentre elas o PL 78/2012 (Dep. Santini) e o PL 20/2012 (Dep. Sossella), que enfrentaram grande resistência na sociedade, que mais uma vez repudiou e reafirmou a preocupação com a busca por alimentos saudáveis e seguros. A Bancada do PT tem uma tradição no debate e defesa do meio ambiente e historicamente tem se manifestado contraria a flexibilização das normas.

Na próxima semana, mais uma vez precisamos nos mobilizar em defesa da Lei 7.747/82, a lei gaúcha dos agrotóxicos, pois mais uma Audiência Pública, na segunda feira dia 03/12, esta marcada para discutir a lei dos agrotóxicos com a tentativa velada de flexibilização.

Assim, conclamamos a todos para se fazerem presentes no Plenarinho da Assembleia Legislativa do RS e manifestarem-se em favor da lei. Queremos mais fiscalização, mais cuidado e mais restrição ao uso de agrotóxicos, esta é a nossa luta.

Gilmar Zolet Vieira, Assessor Bancada do PT – RS