domingo, 16 de dezembro de 2012

O nordeste de Luiz Gonzaga



O programa Via Brasil, da Globo News, apresentou na tarde deste domigo, reportagem especial sobre Luiz Gonzaga e o mundo e personagens de sua obra. A  região semi-árida, sua cultura e seu povo, com a trilha sonora de um de seus maiores representantes, ele foi um verdadeiro embaixador do povo nordestino. Luiz Gonzaga - o rei do baião - foi um gigante da cultura brasileira, cantou e mostrou ao mundo a vida e a natureza do nordeste: vegetação, fauna, retirantes, seca, religiosidade, folclore, vaqueiros, etc. Cantou o povo sertanejo com sua fé, alegrias e dificuldades. Luiz Gonzaga tornou-se parte da cultura universal sendo um autêntico nordestino. Sua música é uma maravilha!

Merece elogio a reportagem de Franciso José, um jornalista qualificado, experiente e conhecedor das coisas no nordeste, que já retratou em muitos outros trabalhos jornalísticos. É um dos tantos bons jornalistas brasileiros.

Sobre esta relação do Luiz Gonzaga com o nordeste, penso que se as escolas rompessem com a visão tradicional (decoreda e disciplinar) deveriam utilizar de recursos didáticos/pedagógicos (como da reportagem, do vínculo de Luiz Gonzaga ao seu mundo concreto) para mostrar/problematizar a realidade de forma multidisciplinar, com enfoque social, econômico, ambiental, geográfico, histórico, sociológico e artístico do nordeste brasileiro. Imaginem uma aula para além das disciplinas, ao som de Luiz Gonzaga, com direito às danças de forró em sala de aula, aprendendo sobre cultura e geografia desta região tão importante para a cultura do Brasil. Refletindo e aprendendo, inclusive, sobre a arte de ter alegria, esperança e fé, mesmo diante da dura realidade e de tamanhas dificuldades que esse povo tem enfrentado na vida. Poderia ser muito bom para os riquinhos e uma certa classe média que costuma reclamar de tudo e se mostram resistentes à mudanças de hábitos para que todos tenham acesso ao básico para viver (ou até sobreviver) e o planeta seja ecologicamente sustentável (viável).


Demilson Fortes
Porto Alegre/RS, 16 dezembro 2012.


quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Ana Maria Primavesi, uma merecida homenagem


O Governo do Rio Grande do Sul, atendendo proposta das entidades agroecológicas e ecologistas, fará homenagem outorgando a Medalha Negrinho do Pastoreio à Ana Maria PrimavesiO deputado estadual Edegar Pretto (PT) foi o porta-voz das entidades junto ao governador Tarso Genro da proposta dos movimentos e entidades.

A solenidade será no dia 20 de dezembro de 2012, às 14h30min, no Palácio Piratini, em Porto Alegre/RS. 



SOBRE ANA MARIA PRIMAVESI 



O solo sempre me fascinou, porque do solo dependem as plantas, a água, o clima. Tudo está interligado. Não existe ser humano sadio se o solo não for sadio e as plantas bem nutridas” - Ana Maria Primavesi



A frase acima sintetiza o pensamento e a vida de Ana Maria Primavesi. Essa mulher fascinante, nasceu na Áustria em 1920, depois veio para o Brasil, onde mora desde 1949. Chegou ao país juntamente com seu marido, já falecido, Artur Primavesi, com quem casou em 1946. Ele também foi professor e pesquisador.

Austríaca, naturalizada brasileira, é Engenheira Agrônoma, formada pela Universidade Rural de Viena, com doutorado pela mesma universidade em Nutrição Vegetal e Produtividade do Solo. Foi professora-adjunta da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), onde lecionou Manejo do Solo e Nutrição Vegetal. Foi diretora do Laboratório de Química do Solo e fundou o Laboratório de Biologia do Solo nesta universidade.

Ana Maria Primavesi foi uma agrônoma que inovou profundamente na ciência do solo, assumindo uma perspectiva ecológica e superando a visão reducionista predominante da Revolução Verde, que concebia a fertilidade dos solos baseado nos insumos químicos pelo uso intensivo de adubos minerais solúveis (nitrogênio, fósforo e potássio) e na mecanização agrícola com a prática do revolvimento (com aração e gradagem) do solo. Ana Primavesi afirmou que a aração dos solos na região dos trópicos era um grande equívoco, e que os adubos e agrotóxicos levam ao empobrecimento dos solos, que por sua vez, abrem para desequilíbrios e doenças e pragas e mais agrotóxicos. Para a pesquisadora, plantas equilibradas nutricionalmente, solos ricos em matéria orgânica e biologicamente vivos, dão as condições para uma agricultura produtiva sustentável ao longo do tempo.

Dedicou a sua vida profissional a pesquisar e divulgar conhecimentos sobre os processos biológicos dos solos que dão suporte para os ecossistemas e para uma agricultura produtiva e sustentável. Foi uma das pioneiras na defesa da agricultura ecológica no Brasil, criticando o uso de agrotóxicos e advertindo para os efeitos nocivos do manejo inadequado dos solos tropicais e do uso de insumos químicos.

Além de professora e pesquisadora, Ana Maria Primavesi, foi ativista da agricultura ecológica e agricultora. Nestas últimas décadas fez palestras, deu cursos, participou de conferências e assessorou agricultores e entidades. Após ter se aposentado da UFSM, dedicou os últimos 32 anos a atividades agrícolas numa propriedade rural particular localizada no Estado de São Paulo, onde produziu de forma ecológica, fez das suas experimentações agroecológicas um laboratório vivo de interação entre produção agrícola e natureza. Foi uma das fundadoras da Associação da Agricultura Orgânica (AAO) e uma das vozes que deu impulso aos movimentos agroecológicos da América Latina, que associaram organização política com ecologia, desenvolvimento social e agricultura.

É autora de vários textos, artigos científicos e livros. Destaca-se o livro “Manejo Ecológico dos Solos: a agricultura em regiões tropicais”, fonte de pesquisa e orientação teórica para milhares de técnicos, pesquisadores e agricultores, que na definição do professor Manoel Baltazar Baptista da Costa, da UFSCar, é “obra prima da pedologia brasileira que viria a revolucionar os conceitos até então dominantes”.

Neste ano (2012), recebeu o “One Word Award”, principal prêmio da agricultura orgânica internacional, conferido pela Internacional Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM).

Ana Maria Primavesi, deu ao Brasil e ao mundo uma das maiores contribuições para a construção de uma nova concepção de produção agrícola, hoje amplamente disseminada e conhecida pelo conceito de agricultura sustentável. No Brasil, ao lado de outras pessoas, ajudou decisivamente para a chamada “agricultura alternativa” dos anos 80 ser alçada à condição de realidade produtiva pela concretização na existência de feiras ecológicas, associações e cooperativas, redes e movimentos de agroecologia. Ela foi incentivadora e referência para muitos militantes sociais, ONGs, movimentos do campo, ativistas do ecologismo popular e do socioambientalismo, de estudantes e profissionais das universidades, de técnicos, pesquisadores e de consumidores.

Os movimentos de agroecologia do Brasil, da América e de outros continentes reconhecem Ana Maria Primavesi como uma das maiores referências da agrocologia e que deve receber a nossa gratidão e homenagem por tudo que fez e ainda continua fazendo, apesar de seus 92 anos de vida.

Por tudo isso, propomos ao Governador Tarso Genro uma homenagem para agradecer e comemorar a existência desta lutadora. Sugerimos, dentre outras possibilidades, a medalha Negrinho do Pastoreio (Decreto Estadual nº 21.669/72) de reconhecimento do Rio Grande do Sul à Ana Maria Primavesi pela alta relevância de sua obra, atuação profissional e existência humana para a bem da sociedade brasileira e pela sustentabilidade global.



São proponentes da homenagem, juntamente com o mandato do deputado Edegar Pretto (PT), entre outras entidades e movimentos, as elencadas abaixo:

Rede Ecovida de Agroecologia
Centro Ecológico
CEA - Centro de Estudos Ambientais
AGAPAN – Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural
CETAP – Centro de Tecnologias Alternativas Populares
CAPA – Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor
AECIA – Cooperativa dos Agricultores Ecologistas de Ipê e Antônio Prado
Fundação Gaia
MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
APEDEMA – Assembléia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente
ECOCAXIAS – Associação dos Ecologistas de Caxias do Sul
Feira Ecológica de Caxias do Sul
Feira dos Agricultores Ecologistas da Avenida José Bonifácio
CONATERRA



quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Desenvolvimento sustentável é sem agrotóxicos



Desenvolvimento sustentável é sem agrotóxicos

Adão Villaverde

Durante audiência pública promovida pela Comissão de Agricultura, nesta semana, a Assembleia Legislativa gaúcha voltou ao tema polêmico e recorrente da alteração da “Lei dos Agrotóxicos” que vige desde 1982 no Rio Grande, estabelecendo uma legislação inovadora que serviu de referência para outros estados.

Ao longo do encontro recordei de um livro, cuja leitura recomendo, do economista Paul Gilding, “A Grande Ruptura”, que prega a reconsideração de nossos valores de progresso. Em ambos os casos o pano de fundo é um só: o conceito de desenvolvimento que queremos para o presente e para as futuras gerações.

Quanto à lei que completará 30 anos no dia 22 de dezembro, mais uma vez defendem sua “flexibilização”, principalmente no que diz respeito ao artigo que exige a comprovação de autorização de uso do produto em seu país de origem. Querem que um produto cuja utilização é proibida na nação onde foi fabricado tenha seu uso liberado em solo gaúcho. Exemplo: um produto de alta toxidade e contaminação do meio ambiente já foi banido nos EUA, mas continua com seu uso liberado no resto do Brasil. O fabricante norte-americano exporta praticamente toda produção para nosso país, que ostenta a duvidosa posição de campeão mundial de consumo de agrotóxicos. E somente por conta da atual legislação é que o RS está protegido dos riscos do seu uso proibido em território riograndense.

A lei contempla cuidados com a saúde, com a produção de alimentos com qualidade e a defesa do meio ambiente, além de servir de elemento importante para a construção de uma visão de sustentabilidade que projetou o RS. É por causa da sua enorme importância, que propomos uma homenagem aos 30 anos de vigência da Lei nº 7.747 de 22/12/1982 e, a partir do ano que vem, uma Campanha de Divulgação e Promoção da Lei ao ingressar em sua quarta década em vigor.

Recentemente, me deparei, pelas redes sociais, com uma entrevista do economista André Lara Resende, um dos “pais do Plano Real”, que disparou a mesma tese de Gilding: ”temos que rever o que consideramos progresso”.Coincidência ou não, mas vindo de um dos formuladores da teoria de que, diante da evolução da crise econômica mundial, a saída era sustentar que somente a adoção de planos de austeridade seria capaz de acalmar os mercados, não deixa de ser uma enorme autocrítica, mas sobretudo uma grande e talvez fundamental novidade.

É claro que não devemos ser ingênuos. Rezende também escreve isso para demarcar com a visão desenvolvimentista, que defende que os governos façam fortes investimentos e dirijam os chamados “gastos públicos” para estimular o crescimento e o desenvolvimento, em curso hoje no Brasil. Que, aliás, foi fundamental para que pudéssemos atravessar ao menos em melhores condições que outros países, a crise mundial.

O que fez o criador do Real foi se ancorar na tese de Gilding, que propugna “a ruptura com a economia que conhecemos, do consumismo desenfreado, de um estilo de vida e de um modelo de desenvolvimento econômico que não medem o impacto nos recursos finitos do planeta”, qual seja, crescer a qualquer custo, mesmo que sem sustentabilidade.
O que talvez deve se ressaltar, aqui, é que ainda há margens significativas para aplicabilidade do modelo desenvolvimentista em países como o Brasil e outros, mas que, de fato, não existe mais nos chamados países centrais. Mesmo que exemplos sejam reducionistas, o Japão é um deles: não cresce há mais de 15 anos.

Portanto, a decorrência fundamental que devemos tirar da tese de Gilding, chancelada por Resende, é que mesmo com margem ainda para crescer, apostando somente nesta lógica, poderemos estar indo para o mesmo caminho dos países centrais e vamos esbarrar, sim, nos limites físicos do planeta. E como diz o economista, “a recusa de ver e agir em relação aos limites ecológicos, vai nos levar a um desordenamento e para um processo bem mais oneroso” do que se tivéssemos sidos capazes de nos preparar para abordar o desenvolvimento a partir de um novo ângulo e com sustentabilidade.

Portanto, o modelo sustentável é aquele em que o bem-estar passa pela inclusão, coesão social, renda, qualidade de vida, menor desigualdade, cuidado com as pessoas, com as cidades com os alimentos, com água, com energia renovável e a defesa do planeta. E não pela mera lógica desenfreada de consumo, com um fim nela mesmo.

É tempo de recuperar e atualizar a noção da nossa geração e das que nos seguirão acerca de por onde devemos caminhar. Precisamos redescobrir uma verdadeira consciência para um padrão de desenvolvimento de novo tipo, do contrário os limites físicos do planeta se excederão.
Ser contra a flexibilização da lei dos agrotóxicos é ser a favor do meio ambiente, da qualidade dos nossos alimentos, solos e água. Ser contra a alteração dessa lei é ser a favor de um novo modelo de desenvolvimento. É ser, portanto, a favor da própria vida.

E a recusa de ver e agir e mesmo a coragem de romper com o modelo de desenvolvimento produzido e reproduzido pela modernidade, poderá estar nos conduzindo, todos juntos, para a ante-sala do colapso do planeta e, portanto, para o mesmo naufrágio.

Adão Villaverde é engenheiro, professor, deputado, ex-presidente AL/RS


A Lei Gaúcha de Agrotóxicos



A  Lei Gaúcha de Agrotóxicos – trinta anos de resistência

Gilmar Zolet Vieira

A Lei Estadual nº 7.747, de 22 de dezembro de 1982, está completando trinta anos. Ela representa um marco histórico na regulamentação de agrotóxicos no Rio Grande do Sul e no Brasil. Nossa lei gaúcha dos agrotóxicos é pioneira, depois dela, e referenciadas nela, vieram a Lei Federal nº 7.802, de 11 de julho de 1989, e as leis de outros estados da federação.

Nestes trinta anos, muitas foram as tentativas de modificar, alterar, derrubar, flexibilizar a lei gaucha de agrotóxicos porém, até hoje, nenhuma delas prosperou, o que se constitui também num marco histórico atestando o acerto no texto da lei à época bem como a força das organizações que neste tempo à defenderam e sustentaram, atentos a necessidade de controle e cuidado com a saúde pública, a qualidade dos alimentos e com o meio ambiente.

Neste ano de 2012, novamente enfrentamos tentativas de flexibilização, dentre elas o PL 78/2012 (Dep. Santini) e o PL 20/2012 (Dep. Sossella), que enfrentaram grande resistência na sociedade, que mais uma vez repudiou e reafirmou a preocupação com a busca por alimentos saudáveis e seguros. A Bancada do PT tem uma tradição no debate e defesa do meio ambiente e historicamente tem se manifestado contraria a flexibilização das normas.

Na próxima semana, mais uma vez precisamos nos mobilizar em defesa da Lei 7.747/82, a lei gaúcha dos agrotóxicos, pois mais uma Audiência Pública, na segunda feira dia 03/12, esta marcada para discutir a lei dos agrotóxicos com a tentativa velada de flexibilização.

Assim, conclamamos a todos para se fazerem presentes no Plenarinho da Assembleia Legislativa do RS e manifestarem-se em favor da lei. Queremos mais fiscalização, mais cuidado e mais restrição ao uso de agrotóxicos, esta é a nossa luta.

Gilmar Zolet Vieira, Assessor Bancada do PT – RS

sábado, 6 de outubro de 2012

Democracia, gosto tanto de ti!


Neste domingo, é dia de afirmação da nossa democracia. Embora com problemas, insuficiências e deformações, a política é o melhor caminho para as  transformações que as pessoas precisam/desejam para o local em que vivem (e sentem os problemas e necessidades). 

É na democracia, de amplas liberdades (o oposto da ditadura), que se pode fazer a crítica, propor e disputar concepções de cidade, de estado e de país. Somente os próprios sujeitos políticos podem alterar o processo. E podem fazê-lo. Democracia não se esgota no momento de votar, mas esse ato é parte fundamental e deve ser valorizado e qualificado.

No entanto, temos a responsabilidade de aperfeiçoar a democracia brasileira, que precisa ser colocada em outro patamar de qualidade. Dentre algumas mudanças necessárias está a diminuição da influência econômica nas eleições, onde o financiamento público de campanha poderá evitar (ou diminuir) esta interferência danosa à democracia e aos interesses populares. 

Nestas eleições, temos muitas opções. Existem excelentes pessoas que se colocam à disposição para nos representar. Eu vou de Marcelo Sgarbossa vereador e Adão Villaverde prefeito, mas cada pessoa faz a sua escolha. Estes dois, tenho certeza, têm compromisso com uma Porto Alegre sustentável, democrática, que valoriza seus espaços coletivos e combate à ganância da especulação imobiliária, evitando o avanço sobre os patrimônios coletivos da cidade.

Na minha opinião, o que não faz bem, é diminuir a importância da democracia (enquanto liberdade de organização e de escolha política) porque isso só reforça e legitima o autoritarismo e as soluções messiânicas (personalistas, demagógicas, populistas, de alto risco, autoritárias e descoladas da realidade).

Então, bom voto!

Democracia, gosto tanto de ti!


Demilson Fortes
Porto Alegre/RS.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Retrocesso ambiental no RS


Riscos à saúde e ao meio ambiente no RS

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa do RS, aprovou hoje o Projeto de Lei nº 78/2012, de autoria do Deputado Ronaldo Santini, que altera a Lei Estadual nº 7.747/82, flexibilizando a legislação dos agrotóxicos no RS.  

O RS tem Lei mais rigorosa em relação à Lei Federal, porque exige comprovação de autorização de uso no país de origem, mas este PL retira esta exigência, diminuindo o rigor.

Após a CCJ deverá tramitar em outras comissões temáticas, como Comissão de Saúde e Meio Ambiente, e da Agricultura, Pecuária e Cooperativismo, mas pode ter surpresas, como foi o caso do PL das queimadas que só passou pela CCJ. Hoje, os deputados do PT votaram contra, mas os outros parlamentares aprovaram.

A sociedade precisa saber que se aprovado o PL 78 poderá trazer consequências danosas ao meio ambiente e a saúde da população. Portanto, a mobilização social pode fazer a diferença. Não se pode permitir retrocessos justamente num contexto em que o mundo discute formas de melhorar a sustentabilidade ecológica.

Nos orgulhamos do pioneirismo do RS, que em 1982 aprovou a Lei 7.747/82 se antecipando a legislação federal, e sendo mais restritiva, ou seja, mais protetiva. Lamentavelmente, através de várias iniciativas de parlamentares gaúchos, o Rio Grande do Sul que já foi o mais avançado na proteção ambiental, está retrocedendo.

Por fim, vale a pena lembrar que o Brasil superou os Estados Unidos e assumiu o primeiro lugar no consumo mundial de agrotóxicos. Infelizmente. Tinha tantas outras áreas que gostaríamos de assumir a liderança mundial, mas foi logo no consumo de agrotóxicos. Esses produtos vão à mesa das pessoas, todos os dias.

Demilson Fortes
Porto Alegre, 11 de setembro de 2012.


sábado, 4 de agosto de 2012

o jornalista


O Dossiê Globo News apresentou uma interessante entrevista com Gay Talese, um dos grandes jornalistas dos EUA, que trabalhou no The New York Times. O jornalista tem 80 anos, mostra ser um sujeito que acredita no ofício crítico e independente do jornalista.

Ele é ferrenho crítico dos famosos, sempre preferiu falar de pessoas não famosas. Disse que uma coisa que levou para toda a vida profissional e recomenda foi o que seu editor um dia lhe falou: "seja mais do que justo com quem você discorda". Reconheceu a liderança de Fidel Castro, criticou a hiprocrisia dos EUA em relação a Cuba por manter a prisão de Guantanamo. Falou que a liberdade de expressão do seu país sofre restrições, e defendeu a liberdade das pessoas livremente se posicionarem. Para ele, o grande erro dos jornalistas dos EUA, foi nos momentos que se autocensuraram aceitando o jogo dos governos em nome da "segurança nacional".

Quando perguntam a ele, como definiria jornalismo em uma só palavra, falou: "confiável"


terça-feira, 3 de julho de 2012

Área indígena sagrada vai virar hidrelétrica




Área indígena sagrada vai virar hidrelétrica

Na curva onde o rio divide os Estados do Pará e Mato Grosso, as águas esverdeadas e velozes do Teles Pires escondem um santuário de belezas naturais e um reino místico da cultura indígena. Para o "homem branco", nada mais é do que a sequência de sete quedas de corredeiras. Entre os povos indígenas, trata-se de um lugar sagrado, que não pode ser mexido. Ali, entre ilhas, pedras e uma mata ainda intocada, eles acreditam que vivem os espíritos de seus antepassados, a mãe dos peixes e da água. "Se for destruído, coisas ruins vão acontecer para o homem branco e para a comunidade indígena", prevê o cacique João Mairavi Caiabi, que aos 51 anos comanda 206 pessoas da aldeia Cururuzinho.


A reportagem é de Renée Pereira e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 01-07-2012.

Segundo ele, algumas dessas maldições já perturbam o dia a dia dos índios: "Temos pessoas com suspeita de tuberculose. Isso nunca aconteceu antes na comunidade. É reflexo das intervenções no rio e na floresta". Os caiabis moram a alguns quilômetros das corredeiras Sete Quedas, nas margens do rio onde está sendo levantada a Hidrelétrica de Teles Pires, a quarta maior usina em construção no Brasil, com 1.820 megawatts (MW) de potência - energia suficiente para abastecer 5 milhões de habitantes, a maioria do Sudeste.

Na região, também moram os índios da etnia mundurucu, considerados mais arredios, e apiacá, que juntos somam uma população de cerca de 600 índios - alguns deles são acusados de nunca terem ido nas Sete Quedas. A exemplo de outras obras, como Belo Monte (PA), a barragem, de R$ 3,6 bilhões, enfrenta fortes protestos de índios, ambientalistas e do Ministério Público, contrários à expansão das usinas na Amazônia. A preocupação do cacique João é que, só na Bacia do Teles Pires, devem ser construídas mais quatro hidrelétricas, além das duas em andamento (Teles Pires e Colíder). Para tirar os projetos do papel, cerca de 70 mil hectares de floresta dariam lugar aos lagos - isso significa 70 mil campos de futebol.

Embora elevado, o número é bem inferior ao das usinas do passado - a Hidrelétrica de Balbina, no Amazonas, inundou quase três vezes mais para gerar apenas 275 MW. Hoje, diante da preocupação ambiental, quase todas as usinas são a fio d'água, sem grandes áreas de reservatório. Se por um lado reduzem a potência da unidade, por outro diminuem substancialmente o impacto ambiental. Isso não significa, entretanto, impacto zero, especialmente para os indígenas.

Compensação ambiental

O lago de Teles Pires terá 9.500 hectares de área inundada, sendo que 7 mil hectares terão de ser desmatados. Em compensação, a Companhia Hidrelétrica de Teles Pires (CHTP, formada por Neoenergia, Furnas, Eletrosul e Odebrecht), que detém a concessão da usina, terá de pôr em prática 45 programas sociais, ambientais e indígenas, num total de quase meio bilhão de reais (15% do valor total da obra).

Estão sendo criados projetos de monitoramento de clima, água e solo; controle de prevenção de doenças; construção de escolas, unidades de saúde, terminal rodoviário, pontes e a pavimentação de ruas. Há ainda programas de resgate de fauna e flora de toda área impactada, além do monitoramento de algumas espécies em extinção. Não importa se é um grande mamífero ou simplesmente uma borboleta, como a Agrias Claudina, ameaçada no Pará. "Todos precisam ser resgatados e catalogados", afirma a gerente de Meio Ambiente da CHTP, Maíra Fonseca Moreira Castro.

Mas, numa região com a biodiversidade tão rica como na Amazônia, é praticamente impossível evitar todos os prejuízos. Maíra conta que já foram resgatadas 1.084 espécies diferentes de árvores na área da usina, sendo que 638 delas foram descobertas após os estudos de impacto ambiental. Só de orquídeas são 85.326 espécies diferentes. Tudo isso catalogado e resgatado por 60 pessoas.

O Plano Básico Ambiental (PBA) indígena é tratado a parte. A CHTP desenhou 12 programas com investimentos para atender as 12 aldeias indígenas da área. Mas a proposta está longe de atender aos anseios das lideranças da região, que ainda não aprovaram o documento. "O PBA está muito fraco. Precisamos de projetos melhores na saúde, educação e habitação", afirma Elenildo Caiabi, um jovem de 25 anos que conhece bem tanto a cultura indígena como a do "homem branco". Para ele, as aldeias precisam reivindicar seus direitos enquanto a usina está em construção. "Depois vão todos embora e nós ficamos apenas com os prejuízos, sem lugar para caçar e pescar."

A lista de equipamentos pedidos pelos índios à CHTP é grande - e cara. Inclui caminhonetes importadas, como Mitsubishi, barcos e motores, antenas parabólicas, etc. A justificativa é a localização. Para chegar à aldeia Cururuzinho, no Pará, há duas alternativas. De avião, gasta-se meia hora saindo de Paranaíta, a cidade mais próxima no Estado de Mato Grosso. Mas esse é um meio de transporte apenas para os visitantes. Normalmente, os índios levam cinco horas para chegar à cidade, sendo duas horas de carro e mais três horas de barco.

Modernidades

Na comunidade, cercada de um lado pelo Rio Teles Pires e de outro pela Floresta Amazônica, as casas - algumas retangulares e outras, ovais - ainda são feitas de madeira e cobertas de folhas de palmeiras. No chão, apenas terra batida. A única casa de alvenaria é reservada aos visitantes da aldeia. Mas alguns avanços da cidade já fazem parte da vida dos caiabis. A aldeia tem um orelhão e energia elétrica produzida por gerador, que funciona à noite ou quando alguém precisa usar o computador, por exemplo.

Eles têm fogão a gás, mas quase nunca usam. Preferem o fogão a lenha, improvisado com tijolos e uma chapa, melhor para assar peixes e carne de animais nativos, como jacu, cateto e paca. Alguns alimentos do "homem branco" também integram as refeições dos índios, como arroz, café e açúcar. "Mas preferimos o peixe, a caça e a farinha de mandioca, plantada aqui do lado", afirma Valdete Caiabi, que aos 25 anos é mãe de cinco filhos. "Dizem que não vai ter nenhum impacto para nós. Mas temos parentes que moram perto de outras hidrelétricas e hoje não têm mais peixe para comer. O rio é o nosso mercado", diz ela.

Em março, a Justiça suspendeu a licença de instalação da usina, alegando que os índios não haviam sido ouvidos. As obras, na época com 2 mil trabalhadores, ficaram paralisadas por 12 dias. A CHTP teve de alugar avião para levar os trabalhadores para casa durante esse período.

De acordo com a empresa, todas as audiências públicas foram feitas dentro da lei e gravadas. Mas para o procurador da República no Pará, Felício Pontes, pela lei, é o Congresso Nacional que tem de fazer oitivas nas aldeias indígenas e não engenheiros e executivos. Segundo ele, entre Ministério Público Federal e Estadual, há cerca de 11 ações propostas contra a usina de Teles Pires.

"Fizemos várias alterações no projeto para reduzir os impactos ambientais na região. Vamos produzir mais megawatts com menos área alagada e devastada", afirma o diretor de Sustentabilidade da CHTP, Marcos Azevedo Duarte. As mudanças, no entanto, não seduzem os caiabis: "Queria o rio do jeito que Deus deixou", diz Valdete.

Índios e brancos vivem em clima hostil

No lugar da placa de "Bem-vindo", uma faixa com letras garrafais escancara um problema que vai além da construção da Hidrelétrica de Teles Pires. É com a frase "Unidos contra a demarcação de terras indígenas" que a pequena cidade de Paranaíta, de 10 mil habitantes, recebe seus visitantes. A demarcação para elevar de 117 mil para mais de 1 milhão de hectares o tamanho da reserva das três etnias (caiabis, mundurucus e apiacás) deveria ter sido iniciada dia 22, mas foi suspensa pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

No município, que teve origem em 1979 e foi emancipado sete anos depois, conta-se nos dedos quem seja a favor dos índios. Naturalmente, os fazendeiros que ajudaram a fundar a cidade são os mais arredios. Foram eles que patrocinaram a confecção de várias faixas espalhadas pela cidade. Algumas, no entanto, foram assinadas pela própria prefeitura de Paranaíta. "Temos de defender o lado da economia. Há um grupo de pecuaristas que terão os investimentos inviabilizados. Além disso, vamos perder as jazidas de calcário na região, que não poderão ser exploradas", observa o prefeito de Paranaíta, Pedro Miyazima.

Mas não são apenas os latifundiários que hostilizam os índios. Até mesmo aqueles que se dizem descendentes, como José Hermínio da Silva, são contra as tribos locais. "Eles se intrometem em tudo", reclama o baiano, de 77 anos, que chegou em Paranaíta em 1988 para trabalhar no garimpo. Não fez fortuna, mas conseguiu comprar uma casa e dois lotes de terra. "Vendi uns 80 quilos de ouro, mas reinvesti tudo. Continuo pobre", conta ele, que guarda na boca as lembranças da época do garimpo. Seus dois caninos são revestidos de ouro.

Do outro lado, os povos indígenas reclamam da agressividade do "homem branco". "Quando chegamos na cidade, ouvimos: Por que esses índios estão aqui? Por que não ficam em suas aldeias?", relata Elenildo Caiabi. Segundo ele, seu povo está estudando e conhecendo melhor a cultura do não índio para lutar pelos seus direitos.

"Eles alegam que um 1 milhão de hectares é muito para nós, mas nunca nenhum deles veio aqui saber como vivemos", diz Elenildo, referindo-se aos prefeitos e governadores dos Estados do Mato Grosso e Pará. Da mesma forma, os índios são acusados de nunca terem ido às corredeiras Sete Quedas, que hoje dizem ser um local sagrado. A briga pela demarcação das terras já dura mais de 23 anos. "O governo fez tanta promessa e não cumpriu nenhuma delas. Mas não vamos desistir", completa Valdete Caiabi.

A decisão da Justiça de suspender a demarcação poderá ter reflexo na construção da Hidrelétrica de Teles Pires, vista como moeda de troca para a comunidade indígena. O cacique João Mairavi Caiabi ameaça invadir o canteiro de obras da usina se o governo federal não resolver logo a situação. "Os fazendeiros têm medo de perder suas propriedades. Nós temos medo de perder nosso rio, nossa floresta, nossa comida", completa Valdete.


Matéria extraída da página eletrônica do Instituto Humanitas Unisinos – IHU -  órgão da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos.




sexta-feira, 1 de junho de 2012

terça-feira, 29 de maio de 2012

A força do PT



A FORÇA DA IMAGEM DO PT

Marcos Coimbra –

Carta Capital  nº 699 de 30 de maio de 2012


Ao contrário do que se costuma pensar, o sistema partidário brasileiro tem um enraizamento social expressivo. Ao considerar nossas instituições políticas, pode-se até dizer que ele é muito significativo. Em um país com democracia intermitente, baixo acesso à educação e onde a participação eleitoral é obrigatória, a proporção de cidadãos que se identificam com algum partido chega a ser surpreendente.

Se há, portanto, uma coisa que chama a atenção no Brasil não é a ausência, mas a presença de vínculos partidários no eleitorado.

Conforme mostram as pesquisas, metade dos eleitores tem algum vínculo.

Seria possível imaginar que essa taxa é consequência de termos um amplo e variado multipartidarismo, com 29 legendas registradas. Com um cardápio tão vasto, qualquer um poderia encontrar ao menos um partido com o qual concordar.

Mas não é o que acontece. Pois, se o sistema partidário é disperso, as identificações são concentradas. Na verdade, fortemente concentradas.

O Vox Populi fez recentemente uma pesquisa de âmbito nacional sobre o tema. Deu o esperado: 48% dos entrevistados disseram simpatizar com algum partido. Mas 80% desses se restringiram a apenas três: PT (com 28% das respostas), PMDB (com 6%) e PSDB (com 5%). Olhado desse modo, o sistema é, portanto, bem menos heterogêneo, pois os restantes 26 partidos dividem os 20% que sobram. Temos a rigor apenas três partidos de expressão.

Entre os três, um padrão semelhante. Sozinho, o PT representa quase 60% das identidades partidárias, o que faz com que todos os demais, incluindo os grandes, se apequenem perante ele.
Em resumo, 50% dos eleitores brasileiros não têm partido, 30% são petistas e 20% simpatizam com algum outro – e a metade desses é peemedebista ou tucana. Do primeiro para o segundo, a relação é de quase cinco vezes.

A proeminência do PT é ainda mais acentuada quando se pede ao entrevistado que diga se “simpatiza”, “antipatiza”ou se não tem um ou outro sentimento em relação ao partido. Entre “muita” e “alguma simpatia”, temos 51%. Outros 37% se dizem indiferentes. Ficam 11%, que antipatizam “alguma” coisa ou “muito” com ele.

Essa simpatia está presente mesmo entre os que se identificam com os demais partidos. É simpática ao PT a metade dos que se sentem próximos ao PMDB, um terço dos que gostam do PSDB e metade dos que simpatizam com os outros.

Se o partido é visto com bons olhos por proporções tão amplas, não espanta que seja avaliado positivamente pela maioria em diversos quesitos: 74% do total de entrevistados o consideram um partido “moderno” (ante 14% que o acham “ultrapassado”); 70% entendem que “tem compromisso com os pobres”(ante 14% que dizem que não); 66% afirmam que “busca atender ao interesse da maioria da população” (ante 15% que não acreditam nisso).

Até em uma dimensão particularmente complicada seu desempenho é positivo: 56% dos entrevistados acham que “cumpre o que promete” (enquanto 23% dizem que não). Níveis de confiança como esses não são comuns em nosso sistema político.

Ao comparar os resultados dessa pesquisa com outras, percebe-se que a imagem do PT apresenta uma leve tendência de melhora nos últimos anos. No mínimo, de estabilidade. Entre 2008 e 2012, por exemplo, a proporção dos que dizem que o partido tem atuação “positiva na política brasileira” foi de 57% a 66%.

A avaliação de sua contribuição para o crescimento do País também se mantém elevada: em 2008, 63% dos entrevistados estavam de acordo com a frase “O PT ajuda o Brasil a crescer”, proporção que foi a 72% neste ano.

O sucesso de Lula e o bom começo de Dilma Rousseff são uma parte importante da explicação para esses números. Mas não seria correto interpretá-los como fruto exclusivo da atuação de ambos.

Nas suas três décadas de existência, o PT desenvolveu algo que inexistia em nossa cultura política e se diferenciou dos demais partidos da atualidade: formou laços sólidos com uma ampla parcela do eleitorado. O petismo tornou-se um fenômeno de massa.

Há, é certo, quem não goste dele – os 11% que antipatizam, entre os quais os 5% que desgostam muito. Mas não mudam o quadro.

Ao se considerar tudo que aconteceu ao partido e ao se levar em conta o tratamento sistematicamente negativo que recebe da chamada “grande imprensa”- demonstrado em pesquisas acadêmicas realizadas por instituições respeitadas – é um saldo muito bom.

É com essa imagem e a forte aprovação de suas principais lideranças que o PT se prepara para enfrentar os difíceis dias em que o coro da indústria de comunicação usará o julgamento do mensalão para desgastá-lo.

Conseguirá?

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Emprestar livros


Esprestar livros é sempre um dilema para quem gosta e faz esforço para comprá-los. É fato que muitas pessoas gastam dinheiro com tantas bobagens e nunca investem em livros. Mas, embora fique em dúvida eu empresto, sob alguns critérios e condições se for para amigos e amigas (devem ter endereço fixo) os quais eu sei que gostam (valorizam e cuidam) de livros. Estabeleço prazo para devolução e recomendo (muitos) cuidados. Sou chato e tenho ciúmes de meus livros.

Acredito que a melhor saída seria ter nas cidades bibliotecas coletivas públicas e por associação, em todos os bairros, empresas, condomínios, etc, onde se pudesse ter fácil ecesso e quem tem mais recursos financeiros ajudasse manter com doações frequentes. A questão colocada é: se é ruim deixar livros parados, também é ruim investir e depois emprestar para gente que não valoriza levar e nunca mais devolver, ou devolver seu livro todo rasgado. Dilemas. Coisas que se resolveriam com mais bibliotecas espalhadas pelas cidades, e certamente, não será problema com livros eletrônicos que serão comuns no futuro próximo. Livros e publicações eletrônicas estão a revolucionar o acesso à informação, textos, livros, fotos, etc.

Multiplicar bibliotecas na cidade pode ser uma proposta para candidatos a gestores públicos que disputarão eleições neste ano. Uma iniciativa que pode ajudar a melhorar e até mudar a vida de muita gente.

Mas, ainda sobre emprestar livros. Sinceramente, será que uma pessoa que tem um bom (ou razoável) salário e nunca compra um livro merece um empréstimo? Pra pensar.


Demilson Fortes

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Artigo Aziz Ab’Saber

DO CÓDIGO FLORESTAL PARA O CÓDIGO DA BIODIVERSIDADE

Aziz AbSaber

Em face do gigantismo do território e da situação real em que se encontram os seis macro biomasAmazônia Brasileira, Brasil Tropical Atlântico, Cerrados do Brasil Central, Planalto das Araucárias, e Pradarias Mistas do Brasil Subtropical e, de seus numerosos mini-biomas, faixas de transição e contato e relictos de ecossistemas, qualquer tentativa de mudança noCódigo Florestaltem que ser conduzido por pessoas competentes e bioeticamente sensíveis. Pressionar por uma liberação ampla dos processos de desmatamento significa desconhecer a progressividade de cenários bióticos, a diferentes espaços dos tempos futuros. Favorecendo de modo simplório e ignorante os desejos patrimoniais de classes sociais que pensam em seus interesses pessoais, no contexto de um país dotado de grandes desigualdades sociais. Cidadãos de classe social privilegiada, que nada entendem de previsão de impactos. Não tem qualquer ética com a natureza. Não buscam encontrar modelos técnico-científicos adequados para a recuperação de áreas degradadas, seja na Amazônia, seja no Brasil Tropical Atlântico, ou alhures. Pessoas para as quais exigir a adoção de atividades agráriasecologicamente auto-sustentadasé uma mania de cientistas irrealistas.

Por muitas razões, se houvesse um movimento para aprimorar o atual Código Florestal, teria que envolver o sentido mais amplo de um Código de Biodiversidades, levando em conta o complexo mosaico vegetacional de nosso território. Remetemos essa idéia para Brasília, e recebemos em resposta que essa era uma idéia boa, mas complexa e inoportuna (...). Entrementes, agora outras personalidades trabalham por mudanças estapafúrdias e arrasadoras no chamado Código Florestal. Razão pela qual ousamos criticar aqueles que insistem em argumentos genéricos e perigosos para o futuro do país. Sendo necessário, mais do que nunca, evitar que gente de outras terras, sobretudo de países hegemônicos venha a dizer que fica comprovado que o Brasil não tem competência para dirigir a Amazônia (...). Ou seja, os revisores do atual Código Florestal não teriam competência para dirigir o todo territorial do Brasil. Que tristeza, gente minha.

O primeiro grande erro dos que no momento lideram a revisão do Código Florestal brasileiroa favor de classes sociais privilegiadasdiz respeito à chamada estadualização dos fatos ecológicos de seu território específico. Sem lembrar que as delicadíssimas questões referentes à progressividade do desmatamento exigem ações conjuntas dos órgãos federais específicos, em conjunto com órgãos estaduais similares, uma Polícia Federal rural, e o Exército Brasileiro. Tudo conectado ainda com autoridades municipais, que tem muito a aprender com um Código novo que envolve todos os macro-biomas do país, e os mini-biomas que os pontilham, com especial atenção para as faixas litorâneas, faixas de contato entre as áreas nucleares de cada domínio morfoclimático e fitogeográfico do território. Para pessoas inteligentes, capazes de prever impactos, a diferentes tempos do futuro, fica claro que ao invés daestadualização, é absolutamente necessário focar para o zoneamento físico e ecológico de todos os domínios de natureza do país. A saber, as duas principais faixas de Florestas Tropicais Brasileiras: a zonal amazônica e a azonal das matas atlânticas, acrescentando estudos indispensáveis sobre o domínio dos cerrados, cerradões e campestres: a complexa região semi-árida dos sertões nordestinos: os planaltos de araucárias e as pradarias mistas do Rio Grande do Sul, além de nosso litoral e o Pantanal Mato-grossense.

Seria preciso lembrar aos honrados relatores que a meu ver são bastante neófitos em matéria de questões ecológicas, espaciais e em futurologiaque atualmente na Amazônia Brasileira predomina um verdadeiro exército paralelo de fazendeiros que em sua área de atuação tem mais força do que governadores e prefeitos. O que se viu em Marabá, com a passagem das tropas de fazendeiros, passando pela Avenida da Transamazônica, deveria ser conhecido pelos congressistas de Brasília, e diferentes membros do executivo. De cada uma das fazendas regionais passava um grupo de cinqüenta a sessenta camaradas, tendo a frente em cavalos nobres, o dono da fazenda e sua esposa, e os filhos em cavalos lindos. E, os grupos iam passando separados entre si, por alguns minutos. E, alguém a pé, como se fosse um comandante, controlava a passagem da cavalgada dos fazendeiros. Ninguém da boa e importante cidade de Marabá saiu para observar a coluna amedrontadora dos fazendeiros. Somente dois bicicletistas meninos, deixaram as bicicletas na beira da calçada olhando silentes a passagem das tropas. Nenhum jornal do Pará, ou alhures, noticiou a ocorrência amedrontadora. Alguns de nós não pudemos atravessar a ponte para participar de um evento cultural.

Será certamente, apoiados por fatos como esse, que alguns proprietários de terras amazônicas deram sua mensagem, nos termos de quea propriedade é minha e eu faço com ela o que eu quiser, como quiser e quando quiser. Mas ninguém esclarece como conquistaram seus imensos espaços inicialmente florestados. Sendo que, alguns outros, vivendo em diferentes áreas do centro-sul brasileiro, quando perguntados sobre como enriqueceram tanto, esclarecem que foi com osseus negócios na Amazônia(...). Ou seja, através de loteamentos ilegais, venda de glebas para incautos em locais de difícil acesso, os quais ao fim de um certo tempo, são liberados para madeireiros contumazes. E, o fato mais infeliz é que ninguém procura novos conhecimentos para re-utilizar terras degradadas. Ou exigir dos governantes tecnologias adequadas para revitalizar os solos que perderam nutrientes e argilas, tornando-se dominadas por areias finas (siltizaçao).

Entre os muitos aspectos caóticos, derivados de alguns argumentos dos revisores do Código, destaca-se a frase que diz que se deve proteger a vegetação até sete metros e meio do rio. Uma redução de um fato que por si estava muito errado, porém agora está reduzido genericamente a quase nada em relação aos grandes rios do país. Imagine-se que para o rio Amazonas, a exigência protetora fosse apenas sete metros, enquanto para a grande maioria dos ribeirões e córregos também fosse aplicada a mesma exigência. Trata-se de desconhecimento entristecedor sobre a ordem de grandeza das redes hidrográficas do território intertropical brasileiro. Na linguagem amazônica tradicional, o próprio povo reconheceu fatos referentes à tipologia dos rios regionais. Para eles, ali existem, em ordem crescente: igarapés, riozinhos, rios e parás. Uma última divisão lógica e pragmática, que é aceita por todos os que conhecem a realidade da rede fluvial amazônica.

Por desconhecer tais fatos os relatores da revisão aplicam o espaço de sete metros da beira de todos os cursos dágua fluviais sem mesmo ter ido para conhecer o fantástico mosaico de rios do território regional.

Mas o pior é que as novas exigências do Código Florestal proposto têm um caráter de liberação excessiva e abusiva. Fala-se em sete metros e meio das florestas beiradeiras (ripário-biomas), e, depois em preservação da vegetação de eventuais e distantes cimeiras. Não podendo imaginar quanto espaço fica liberado para qualquer tipo de ocupação. Lamentável em termos de planejamento regional, de espaços rurais e silvestres. Lamentável em termos de generalizações forçadas por grupos de interesse (alguns ruralistas).

se poderia prever que um dia os interessados em terras amazônicas iriam pressionar de novo pela modificação do percentual a ser preservado em cada uma das propriedades de terras na Amazônia. O argumento simplista merece uma crítica decisiva e radical. Para eles, se em regiões do centro-sul brasileiro a taxa de proteção interna da vegetação florestal é de 20%, porque na Amazônia a lei exige 80%. Mas ninguém tem a coragem de analisar o que aconteceu nos espaços ecológicos de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, e Minas Gerais com o percentual de 20%. Nos planaltos interiores de São Paulo a somatória dos desmatamentos atingiu cenários de generalizada derruição.

Nessas importantes áreas, dominadas por florestas e redutos de cerrados e campestres, somente o tombamento integrado da Serra do Mar, envolvendo as matas atlânticas, os solos e as aguadas da notável escarpa, foi capaz de resguardar os ecossistemas orográficos da acidentada região. O restante, nosmares de morros, colinas e várzeas do Médio Paraíba e do Planalto Paulistano, e pró-parte da Serra da Mantiqueira, sofreram uma derruição deplorável. É o que alguém no Brasilfalando de gente inteligente e bioéticanão quer que se repita na Amazônia Brasileira, em um espaço de 4.200.000 km².

Os relatores do Código Florestal, falam em que as áreas muito desmatadas e degradadas poderiam ficar sujeitas a(re)florestamentopor espécies homogêneas pensando em eucalipto e pinus. Uma prova de sua grande ignorância, pois não sabem a menor diferença entre reflorestamento e florestramento. Esse último, pretendido por eles, é um fato exclusivamente de interesse econômico empresarial, que infelizmente não pretende preservar biodiversidades. Sendo que, eles procuram desconhecer que para áreas muito degradadas, foi feito um plano de (re)organização dos espaços remanescentes, sob o enfoque de revigorar a economia de pequenos e médios proprietários: projeto FLORAM. Os eucaliptólogos perdem ética e falta de previsão de impactos éticos quando alugam espaços por trinta anos, de incautos proprietários, preferindo áreas dotadas ainda de solos tropicais férteis, do tipo dos oxissolos, e evitando as áreas degradadas de morros pelados reduzidas a trilhas de pisoteio, hipsométricas, semelhantes ao protótipo existente no Planalto do Alto Paraíba, em São Paulo. Ao arrendar terras de bisonhos proprietários, para uso em 30 anos, e sabendo que os donos da terra podem morrer quando se completar o prazo. Fato que cria um grande problema judicial para os herdeiros, sendo que ao fim de uma negociação as empresas cortam todas as árvores de eucaliptos ou pinos, deixando miríades de troncos fincados no chão do espaço terrestre. Um cenário que impede a posterior reutilização das terras para atividades agrárias. Tudo isso deveria ser conhecido por aqueles que defendem ferozmente um Código Florestal liberalizante.

Por todas as razões somos obrigados a criticar a persistente e repetitiva argumentação do deputado Aldo Rebelo, que conhecemos muito tempo, e de quem sempre esperávamos o melhor, no momento somos obrigados a lembrar a ele que cada um de nós tem que pensar na sua biografia, e, sendo político, tem que honrar a historia de seus partidos. Mormente, em relação aos partidos que se dizem de esquerda e jamais poderiam fazer projetos totalmente dirigidos para os interesses pessoais de latifundiários.

Insistimos que em qualquer revisão do Código Florestal vigente, deve-se enfocar as diretrizes através das grandes regiões naturais do Brasil, sobretudo domínios de natureza muito diferentes entre si, tais como a Amazônia, e suas extensíssimas florestas tropicais, e o Nordeste seco, com seus diferentes tipos de Caatingas. Tratam-se de duas regiões opósitas em relação à fisionomia e à ecologia, assim como em face das suas condições socioambientais. Ao tomar partido pelos grandes domínios administrados técnica e cientificamente por órgãos do executivo federal, teríamos que conectar instituições específicas do governo brasileiro com instituições estaduais similares. Existem regiões como a Amazônia que envolve conexões com nove estados do Norte Brasileiro. Em relação ao Brasil Tropical Atlântico os órgãos do Governo FederalIBAMA, IPHAN, FUNAI e INCRAteriam que manter conexões com os diversos setores similares dos governos estaduais de norte a sul do Brasil. E assim por diante.

Enquanto o mundo inteiro propugna para a diminuição radical de emissão de CO2, o projeto de reforma proposto na Câmara Federal de revisão do Código Florestal defende um processo que significará uma onda de desmatamento e emissões incontroláveis de gás carbônico, fato observado por muitos críticos em diversos trabalhos e entrevistas.

Parece ser muito difícil para pessoas não iniciadas em cenários cartográficos perceber os efeitos de um desmatamento na Amazônia de até 80% das propriedades rurais silvestres. Em qualquer espaço do território amazônico, onde poderão ser estabelecidas glebas com desmate de até 80%, haverá um mosaico caótico de áreas desmatadas e faixas inter-propriedades estreitas e mal preservadas. Lembrando ainda que, nas propostas de revisão, propriedades de algumas dezenas de hectares até 400 hectares, teriam o direito de um desmate total em suas terras, vejo-me na obrigação de que a médio e longo prazo existiria um infernal caleidoscópio no espaço total de qualquer área da Amazônia. Nesse caso, as bordas dos restos de florestas, inter-glebas ficarão à mercê de corte de árvores dotadas de madeiras nobres. E além disso, a biodiversidade animal certamente será a primeira a ser afetada, de modo radical.

Uma cartografia simbólica dos desmates, em propriedades de diferentes tamanhos, permite uma previsão virtual do que seria a dinâmica do cenário do desmatamento regional, antevisto à médio prazo. Baseados em fatos reais acontecidos no vale do Tocantins (Pará) e nos planaltos interiores de São Paulo e Minas Gerais.

Tem sido impossível, lamentavelmente, entender o quadro em processo, que acontecerá na Amazônia, devido às modificações básicas que foram dirigidas para o Código Florestal.

O painel de derruição propiciado pelos revisores, chega a ser assustador. Somente pessoas que entendem de espaço podem avaliar o teor da progressividade dos desmates que se fará realizar ao longo de muitos tempos. Em um artigo meritório Marta Solomon de Brasília, conseguiu que se publicasse no jornal O Estado de São Paulo (22 de abril de 2011), sob o título de Código Florestal, avalia que seriam devastados até 200 mil Km2 de mata. Levando em conta, sobretudo, as liberações excessivas das chamadasreservas legais, em áreas de grandes propriedades da Amazônia. O pior, ainda mais, é que o painel do futuro, a diversas profundidades de tempo, é progressivo e incontrolável, sobretudo pela desfaçatez de pessoas que se dedicam anegócios na Amazônia. algum tempo, um alto membro do governo falou quea Amazônia não poderia permanecer intacta, porque vivem 20 milhões de pessoas. Como se a sua argumentação de sorte favorecesse os pobres e desmerecidos.

No painel crítico e progressivo do futuro, poderia ser visto as consequências do desmate em propriedades de diferentes tamanhos. Grandes propriedades passíveis de desmate sem qualquer controle ou fiscalização, 80% de um terreno, em qualquer propriedade do imenso território amazônico. Próximo as grandes propriedades, as chamadas propriedades familiares, (...) ficariam libertas para devastação total de até 400 hectares. O maior absurdo do fato, pois o desmate global em uma propriedade de 400 vezes 10.000 metros quadrados, eliminaria até mesmo a impossibilidade de plantar espécies amazônicas nas bordas da mata, para alimentação ou venda. É incrível que os que pretendem revisionar um Código, não saibam a importância de se aproveitar a umidade e a luminosidade das bordas das florestas para plantar açaí, pupunha, cupuaçu, bananeira e mamões em aproveitando o efeito de borda. Considerar que propriedades familiares de até 400 hectares podem derruir toda a vegetação florestal de suas terras é um dos maiores erros, mais perigosos, da proposta feita na Revisão do Código. Mesmo porque um espaço de 400 hectares, em qualquer parte do Brasil, pode ser considerado uma fazenda.

Perder terra sem qualquer visão de planejamento regional, 400 vezes 10.000 metros quadrados aqui, e, ao lado e além 80% em espaços proprietários, envolvendo 500, 1.000 ou 10.000 vezes de 10.000 metros quadrados, (ou 100 vezes 10.000 metros quadrados ou 10.000 ou mais de hectares), é o grande crime da qual propuseram em apoiar e pressionar por um Código, feito na base de ignorâncias. Presumindo por princípio que de longe fazemnegócios na Amazônia Brasileira, com venda ou revenda de espaços loteados e vendas de toras de árvores regionais transportados através de rios ou de caminhões para diferentes áreas da Amazônia (Breves, Santaren), ou com algum valor agregado para o Sudeste do Brasil ou distantes áreas do mundo (China, EUA).

No caso da Amazônia, que mais nos preocupa, machadeiros e motoserristasacompanhados de queimadas sincopadaso roteiro dos desmatamentos seguiu por rodovias, ramais e sub-ramais, atingindo radicalmente asespinhelas de peixedos loteamentos feitos em quarteirões especulativos no interior das matas biodiversas. Lotes de cinqüenta a cem hectares, considerados pequenos na Amazônia, foram vendidos a incautos moradores de regiões distantes. Nesse último caso, os numerosos aquisidores, que nem mesmo puderam chegar ao sítio das terras compradas à distancia, cederam o espaço para madeireiras espertas e persistentes, fato que pode ser visto e analisado em imagens de satélite na região norte do Mato Grosso, no médio Tocantins, na Bragantina, Acre sul-oriental, Rondônia, Oeste-noroeste do Maranhão, e diversos outros setores da Amazônia.

Insistimos em prever que se houver um Código que limite a reserva legal de proteção das florestas a apenas 20% do espaço total de cada propriedade, seja qual for o seu tamanho, de 400 a um milhão de hectares, o arrasamento a médio prazo será inimaginavelmente grande e progressivo.

Uma das justificativas mais freqüentes para os que são favoráveis para a ampliação de áreas desmatáveis, em cada propriedade de terra firme na Amazônia, é de que, assim, haverá mais emprego para trabalhadores amazonidas. Pouca gente lembra, entretanto, que em numerosas fazendas e fazendinhas da Amazônia Brasileira predomina o trabalho semi-escravo. Desde o início da ampliação das chamadas fronteiras ditas agrícolas, predominaram o trabalho braçal periódico ou temporário, para machadeiros, criadores de gado, madeireiros e plantadores de eucaliptos. Sendo que, nas raras áreas de solos melhores, estabeleceu-se o vai-e-vem tradicional de trabalho no preparo da terra e plantio, em períodos limitados, e, mais tarde diversas atividades na época da colheita. Caminhoneiros fizeram penetrações esdrúxulas para atingir locais de madeiras nobres ou transportar troncos de árvores para serrarias ou para a retirada de produtos das raras comodites. Agora, em espaços da soja, da cana, e muito eventualmente do arroz, somente os capatazes mandonistas ganham razoavelmente.

Quem procura um emprego qualquer, em uma fazenda, ainda que temporário, sofre um drama trágico e muito cansativo. Para chegar à fazenda escolhida, com sua matulinha mirrada de roupas singelas, alguns caminham por quilômetros nas estreitas trilhas das florestas, até atingir as propriedades onde conseguirão um emprego braçal. Seja o preparo do solo para plantações; seja ampliação dos capinzais para o gado; seja no corte de árvores para detenção de espaços ditos produtivos, seja no trabalho rápido e esgotante nas épocas de colheitas. Quando despedidos são obrigados a voltar para áreas de beira de estradas onde existem rústicas aldeias ouruaspseudo-comerciais.

Temos acompanhado, desde 1972, os problemas criados por capatazes autoritários em propriedades amazônicas, pertencentes a pessoas ou grupos de pessoas alienígenas. Conflitos dos mais diferentes tipos acontecem entre pobres trabalhadores silvo-rurais e os donos de propriedades dos mais diferentes tipos. uma resistência permanente em face à remuneração dos que vem de fora em face dos minguados preços pagos aos que nasceram na própria Amazônia. Reciprocamente, o comportamento dos proprietários em relação aos poucos tratos de terras férteis pertencentes a reservas indígenas é catastrófico e quase insolúvel. Um dia encontrei em um aeroporto, um proprietário de uma fazenda, que ia viajar para a Amazônia no noroeste da Roraima, onde possuía suas terras. Perguntei-lhe, qual era a relação entre seus camaradas e os índios Yanomamis da região, e a resposta infeliz veio rápida e antiética:Para eles, é o meu capataz que responde, erguendo seu perigoso facão.

Numa ocasião, ao término de uma visita a uma fazenda dedicada à pecuária, nos pediram que em nossa volta levássemos para uma farmácia um camarada doente, que estava passando muito mal. Na realidade, era alguém que contraiu uma malária radical, designada portersã maligna. Não para falar sobre o triste estado do pobre trabalhador. Na distante farmácia, tomamos conhecimento que em casos similares a única providência era um coquetel de remédios agressivos, através dos quais, o pobre doentemelhorava ou morria.

Na rodovia entre Rio Branco e Brasiléia (Acre), pudemos sentir o ódio que alguns jovens tinham para o que chamavam depaulistas, os quais teriam comprado terras durante os trabalhos de construção da estrada. O desmate interfluvial fez com que as cabeceiras de igarapés secassem; e que muitas propriedades da terra firme desmatada ficassem sem qualquer atividade produtiva. Explicação dos acreanos: inadimplência dos proprietários alienígenas porque nunca eles quiseram fazer uma parceria conosco, que temos muito mais experiência sobre atividades agrárias em nossa região. Note-se que o termopaulistadizia respeito a qualquer pessoa procedente do centro sul do Brasil. Tal como nessa imensa área, todos os migrantes são designados porbaianos, independentemente de onde tenham vindo.

Aqui chegados em nossas considerações, torna-se indispensável referir-se a atividades de pequenos produtores familiares, dotados de terras mais férteis, de dimensões limitadas, tais como várzeas de ricos solos fluvio-aluviais ao longo do rio Amazonas, ou de pequenas áreas da terra firme dotadas de oxisolos oriundos da decomposição de basaltos ou diabásios [infelizmente, porém, essas últimas áreas são bastante raras, envolvendo em seu espaço total menos de oito mil quilômetros quadrados] do território amazônico. Ou em um modelo localizado de plantações em praias de estiagem do rio Acre; ou, onde vicejam linearmente melancias, melões e algumas plantas alimentares, ou em bordas de florestas restantes em terrenos de projetos falidos, onde se estabeleceu o importante e famoso projeto RECA. Houve um tempo em que muito se falou em reservas extrativistas, a partir do Acre de Chico Mendes, para todo o território Amazônico. Evidentemente, houve muito exagero nessa campanha, tão simpática quanto inviável. Mas aconteceu felizmente, uma proposta bem mais complexa e diversificada a qual pode ter grande aplicação a curto e médio prazo; em muitas outras regiões da Amazônia a qual introduzia atividades mais lógicas e produtivas, sem de tudo eliminar o sentido complementar do extrativismo. Trata-se de um modelo pioneiro, inventado por um ex-padre francês, de origem rural, que após trabalhar no Paraná foi para o Acre com a ideia de revigorar e reutilizar áreas degradadas. Após conversar com o inteligente Bispo Don Grec, em Rio Branco, o idealista ex-padre resolveu fazer uma experiência extremamente válida e quase científica porque se utilizou do chamado efeito de borda para iniciar plantações com espécies amazônicas, tais como açaí e pupunha e cupuaçu.

Seu projeto foi feito em cooperação com amazonidas residentes na fronteira da Rondônia com o Acre, tendo seu foco inicial na pequena cidade de Nova Califórnia.

Nenhum governo soube perceber o quanto o projeto ali instalado e desenvolvido poderia ser útil para numerosas outras áreas de borda de matas remanescentes. Sem falar que no seio da floresta continuava o projeto extrativista tão caro aos companheiros do extraordinário acreano Chico Mendes. Além do que, o chamadoreflorestamentoeconômico concentrado e adensado (RECA), teve um caráter didático para os cooperados que se integraram no trabalho, produzindo espécies amazônicas e produtos comestíveis importantes para sua alimentação (como açaí, abacaxis, castanhas e, sobretudo, mandioca). Na borda das florestas, devido à forte luminosidade e hidratação caída das folhas e galhos, poderão ser produzidos muito mais coisas ainda, a favor dos amazonidas, tais como bananeiras e mamoeiros, e diversas outras frutíferas. Muita coisa ainda resta ser analisada, no famoso projeto, que infelizmente foi muito pouco compreendido por técnicos e governantes.

Nas mudanças que se pretendem fazer para o atual Código Florestal existem alguns tópicos extremamente criticáveis. Ao se discutir o tamanho de propriedades familiares definiu-se as mesmas como tendo de dezenas de hectares até quatrocentos hectares. Fato que significa que todas as pequenas e médias propriedades produtoras, ou parcialmente aproveitadas, até 400 hectares poderão ser totalmente desmatadas. O fato de se considerar desmatável propriedades ditas familiares até o nível de 400 hectares é um absurdo total. Trata-se de uma excessiva flexibilização que poderá produzir um mosaico derruidor de florestas ao longo de rodovias, estradas, riozinhos e igarapés. Um cenário trágico para o futuro, em processo no interior da Amazônia brasileira. No entanto, propriedade de 100 a 400 hectares, que conservassem um razoável percentual de matas no seu entorno, poderiam receber esquemas parecidos com o projeto RECA, na borda dos remanescentes florestais. Fato que não foi considerado nem de passagem pelos idealizadores e relatores de um novo Código Florestal. Razão pela qual deixamos aqui além de uma crítica que julgamos absolutamente necessária, uma proposição de acréscimos de atividades para pequenas e médias propriedades familiares. Lembrando que quem faz críticas tem que elaborar propostas bem planejadas para resolver as situações consideradas negativas.

Anotamos ainda que a idéia de reduzir para 15 metros faixas de proteção de florestas beiradeiras (mini-biomas ripários) tem um caráter extremamente genérico e de duvidosa aplicabilidade. A nosso ver não é possível limitar para a Amazônia generalizadamente as áreas beiradeiras em termos de para alguns metros de largura. Pelo contrário, é necessário considerar os fatos relacionados a igarapés, riozinhos, rios eparás(grandes rios). A impressão que se tem é de que, determinando uma largura geral para proteção, estaríamos possibilitando desmates no nível de todos os espaços situados entre a beira de cursos dágua até muito além onde se situam os interflúvios de colinas ou encostas de pequenas serranias amazônicas. Existe toda uma aula a ser dada sobre essa problemática que tende a criar cenários extremamente caóticos em relação ao futuro a diferentes profundidades de tempo.

Um comentário quase final: não se faz qualquer projeto de interesse nacional pensando apenas em favorecer de imediato uma geração do presente, em termos de especulação com espaços ecológicos, mesmo porque, somos de opinião que devemos pensar no sucesso de todos os grupos humanos ao longo de muitos tempos: no caso uma questão de bioética com o futuro. Sem pensar na grande capacidade que o conjunto das imensas florestas zonais preservadas da Amazônia tem em relação ao clima do planeta Terra; assunto que preocupa todos os pesquisadores sensíveis do mundo. Gente que espera que o Brasil faça uma proteção integrada da maior área de vegetação florestal que ainda resta em regiões equatoriais e subequatoriais do mundo. Será muito triste, cultural e politicamente falando, que pessoas de diversas partes do mundo ao lerem as mudanças absurdas pretendidas para o Código Florestal brasileiro, venham a dizer que fica comprovado queo Brasil não tem capacidade para administrar e gerenciar a Amazônia. Ainda que em outros países haja um interesse permanente em adquirir por preços irrisórios as madeiras do território regional amazônico. Tristes frases que sempre vem sendo ditas ao sabor de trágicos acontecimentos ocorridos em nossa principal área de vegetação florestal que se estende por alguns milhões de quilômetros quadrados.

A utopia de um desenvolvimento com o máximo possível de florestas em não pode ser eliminada por princípio em função de mudanças radicais do Código Florestal, sendo necessário pensar no território total de nosso país, sob um ampliado e correto Código de Biodiversidade. Ou seja, um pensamento que envolva: as nossas grandes florestas (Amazônia e Matas Tropicais Atlânticas); o domínio das Caatingas e Agrestes sertanejos; planaltos centrais com Cerrados, Cerradões e Campestres; os planaltos de araucárias sul-brasileiros, as pradarias mistas do Rio Grande do Sul, e os redutos e mini-biomas da costa brasileira, do Pantanal Mato-grossense e das faixas de transição e contato (core-areas) de todos os domínios morfoclimáticos e fitogeográficos brasileiros.

Seria necessário que os pretensos reformuladores do Código Florestal lançassem sobre o papel os limites de glebas de 500 a milhares de hectares, e dentro de cada parcela das glebas colocasse indicações de 20% correspondente às florestas ditas preservadas. E, observando o resultado desse mapeamento simulado, poderiam perceber que o caminho da devastação lenta e progressiva iria criar alguns quadros de devastação similares ao que aconteceu nos confins das longas estradas e seus ramais, em espaços de quarteirões implantados para venda de lotes de 25 a 100 hectares, onde o arrasamento de matas no interior de cada quarteirão foi total e inconsequente.

logo oportuno, em acréscimo ao presente trabalho, faremos importantes advertências a governantes e políticos. Não temos dúvida nenhuma de que os três grupos de problemas que mais afetaram o futuro da natureza brasileira dependem da pressão de alguns ruralistas (nem todos) fanáticos por seus interesses, e pelos imobiliaristas neocapitalistas que escolhem os pontos nodais mais caóticos para construir prédios de todos os tipos, sem pensar na mobilidade da população local e sub-regional. E por último, o caso especial de derruição de matas entre radiais, avenidas e rodovias, aumentando a pressão por um tipo inusitado dealdeia global, como é o exemplo fatídico que vem se esboçando entre a Granja Viana e Alphaville. Tudo sobre o incentivo de prefeitos ávidos por aumentar impostos, sem pensar nas consequencias de uma falta total de planejamento equilibrado.

Aziz Nacib AbSáber
São Paulo, 09 de maio de 2011