Copa
é pretexto, tudo é política e objetivo é eleição
Por Ricardo Kotscho
Engana-se
quem pensar que as greves selvagens, os protestos violentos e a
baderna em geral vão parar depois da Copa. Toda a questão é
política e o principal objetivo é impedir a reeleição da
presidente Dilma Rousseff. De um ano para cá, desde as tais
"jornadas de junho", interesses variados se uniram para
mostrar que a situação fugiu do controle nas ruas e nos fundamentos
econômicos, provocando o caos nas grandes cidades, criando um clima
de medo e revolta na população.
Se
você repete todo dia que tudo vai mal e, depois, vai fazer uma
pesquisa perguntando como estão as coisas, claro que a maioria vai
dizer que as coisas vão mal. Se você só mostra problemas no
governo federal e omite ou minimiza os desmandos na administração
estadual, a maioria vai dizer que a presidente vai mal e o governador
está muito bem.
Desta
vez, o Partido da Mídia está muito mais organizado do que nas
eleições anteriores, preparou-se para o tudo ou nada, unido como
nunca no Instituto Millenium, e já começa a colher os frutos, como
mostram as últimas pesquisas que ela própria promove.
São
as tais profecias que se auto realizam e não deveriam surpreender
ninguém os últimos números divulgados pelo Datafolha, mostrando a
queda de Dilma em direção ao piso de popularidade de junho do ano
passado, no auge das manifestações, enquanto os índices do
governador Geraldo Alckmin se mantém impávidos rumo à reeleição.
A culpa de tudo, como se lê no noticiário e ouve nas ruas, é do
governo federal.
Claro
que nada disso teria o mesmo resultado negativo para a situação e
positivo para a oposição se a economia estivesse indo bem. Aí
juntou a fome com a vontade de comer: deixando todos os flancos
abertos na economia, sem mostrar nenhuma capacidade de reação, o
governo Dilma é como aqueles times que recuam para garantir o
resultado e pedem para tomar um gol. Acabam tomando.
Não
é que a mídia tenha recuperado seu velho poder, mas parece óbvio
que agora as condições concretas lhe são muito mais favoráveis
para acabar com a hegemonia petista. Os gastos desnecessários ou
superfaturados com a organização da Copa serviram apenas de
pretexto para as turmas do passe livre, dos sem-teto revolucionários
ou dos chantagistas sindicais, que agora resolveram reivindicar tudo
de uma vez, colocando o governo contra a parede.
Depende,
é claro, de qual governo estamos falando. Se a greve é dos
motoristas que abandonam os ônibus atravessados no meio das ruas, um
problema municipal, a Polícia Militar fica só assistindo, sem
importunar ninguém. Mas se a greve é dos metroviários, um problema
estadual, a mesma polícia tem ordens para baixar o cacete e acabar
com os piquetes nas estações.
Este
é o jogo e só não vê quem não quer ou tem algum interesse no
resultado.
Publicado em 07/06/14 no R7. Ricardo Kotscho,
65, é repórter desde 1964. Já trabalhou em praticamente todos os
principais veículos da imprensa brasileira, nas funções de
repórter, repórter especial, editor, chefe de reportagem,
colunista, blogueiro e diretor de jornalismo. É atualmente
comentarista do Jornal da Record News e repórter especial da revista
Brasileiros.