terça-feira, 30 de abril de 2013

Açúcar e crianças



Açúcar e crianças

O jornalista Jorge Pontual, comentou hoje (30/04/2013) no programa Em Pauta, da Globo News, de estudo de universidade dos EUA, sobre açúcar e saúde das crianças. Este estudo revelou que o consumo de açúcar endurece as artérias, prejudicando o coração das crianças. O ideal seria comer menos açúcar e praticar mais esporte. Mas, segundo Jorge Pontual, menos de 1/3 das crianças nos EUA praticam esporte. A falta de atividade física associada ao consumo de açúcar+gordura+sal, resulta em crescentes problemas de saúde. Então, o pai e a mãe que não educa seu filho para ter hábitos saudáveis está promovendo a doença. Promover o consumo de refrigerante, doce e lanche rápido, é a ilusão de fazer bem aos pequenos.


Milho transgênico, a opção equivocada




Milho transgênico, a opção equivocada


O Conselho do Feaper, no dia 23 de abril, aprovou por maioria, colocar milho transgênico no programa Troca-Troca de Sementes. Esta decisão pode trazer grandes impactos, muitos ainda não dimensionados. As entidades e os órgãos do governo estadual ao aprovarem a proposta, avalizam e aceleram a disseminação de uma tecnologia polêmica e discutível do ponto de vista ambiental, econômico e social.

Mas, necessitamos mesmo de milho transgênico? Acreditamos que não. Analisamos que esta não é uma boa opção para construir uma agricultura familiar sustentável e uma produção de alimentos que dê segurança e soberania alimentar ao Brasil. O Estado deve apoiar e promover os sistemas ecológicos sustentáveis e não os transgênicos, porque estes reforçam o poder das corporações agroquímicas e a dependência. Pelos riscos associados, alguns evidentes, outros potenciais, defendemos que está é uma opção equivocada, portanto, somos contrários.

Temos muita diversidade de milho variedade, algumas desenvolvidas pela pesquisa e outras sementes crioulas, conservadas, adaptadas e melhoradas pelos agricultores ao longo de centenas de anos. O transgênico pode contaminar geneticamente estas variedades, que podem ser perdidas. Também, ao ser detectado gene transgênico na planta, o agricultor passa a pagar royalties, aumentado o custo, a exemplo da soja. Há estudos que ligam transgênicos a riscos à saúde, logicamente, quem consome vira cobaia; faltam pesquisas epidemiológicas.

No entanto, o debate é para além do milho. Discute-se concepção de desenvolvimento, prioridades, opção tecnológica, segurança e soberania alimentar, agrobiodiversidade e a nossa responsabilidade e relação ética com tudo isso.

Defendemos que se há riscos ecológicos irreversíveis, o princípio da precaução deve orientar a opção. Sociedade e agricultores perdem com os transgênicos, que traz riscos e reforça o modelo agrícola predatório e insustentável. Ilude-se quem acha que dependência e riscos ajuda os agricultores.

Não é sensato colocar em risco o futuro e o estratégico pelo imediato. Disputa-se algo que envolve o futuro da alimentação da humanidade. Por certo, os gestores públicos deveriam saber que tecnologias não são neutras.

Seria bom prestar atenção no alerta de Pat Roy Mooney: 'quem domina as sementes, domina a humanidade'. Há caminhos que não devemos seguir.


Altemir Tortelli, deputado estadual do PT/RS, agricultor, ex-coordenador da Fetraf-Sul/CUT
Demilson Fortes, engenheiro agrônomo, ecologista, assessor da bancada do PT/RS







sexta-feira, 26 de abril de 2013

Queima do lixo a galope, apesar da lógica e da lei




Queima do lixo a galope, apesar da lógica e da lei

Washington Novaes

Vai e volta sem chegar a consenso a discussão sobre o destino do lixo, dos resíduos sólidos e orgânicos, tantos são os interesses envolvidos. Neste momento, o centro do debate está em torno da decisão ou intenção de alguns municípios paulistas, principalmente da Região Metropolitana de São Paulo - Mogi das Cruzes, Barueri, São Bernardo do Campo -, de partir para projetos de incineração de resíduos.

Barueri, por exemplo, que hoje leva seu lixo para 30 quilômetros de distância, vai aplicar R$ 160 milhões na instalação de uma usina que incinerará, a uma temperatura de 800 graus, 90% dos resíduos, a um custo de R$ 44,6 milhões anuais (Folha de S.Paulo, 6/4). Mogi das Cruzes e outros cinco municípios terão um projeto conjunto para incinerar 500 toneladas diárias. O Conselho do Instituto Pólis, por exemplo, já condenou o projeto, não só por causa dos riscos da incineração (emissão de dioxinas e furanos, cancerígenos, dependendo da temperatura), como pelos prejuízos para as cooperativas de catadores de materiais recicláveis.

O tema foi um dos discutidos em recente reunião promovida pelo Instituto Ethos, na qual empresas eram convidadas a assinar uma carta de compromisso sobre "gestão sustentável de resíduos sólidos". Nesta, a intenção é seguir as prioridades da Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada pelo Congresso Nacional - não gerar resíduos, reduzi-los, reutilizá-los, reciclá-los, dar prioridade na política a cooperativas de catadores. Infelizmente, o Senado, na última hora, suprimiu o dispositivo que colocava a incineração como alternativa a ser considerada apenas se as outras não fossem viáveis. E mandou o texto para a sanção presidencial - o que ocorreu ainda na gestão Lula.

É um problema brasileiro grave, pois estão sendo geradas mais de 230 mil toneladas diárias de lixo domiciliar e comercial (fora entulhos e outros tipos de resíduos), mais de 1,2 quilo por pessoa/dia, das quais 62 milhões de toneladas anuais de resíduos sólidos; 89% desse volume é coletado e mais de 40% vai para 3.369 lixões, segundo o IBGE. Agora, o Movimento Nacional dos Catadores protesta "veementemente" contra a intenção de Porto Alegre, onde a prefeitura avalia dez projetos para uma central de tratamento de resíduos, que terá como uma das possibilidades a incineração de 1,8 mil toneladas diárias, hoje levadas diariamente em 20 caminhões para um aterro a 120 quilômetros de distância. A cidade paranaense de Maringá também ameaçou tomar esse caminho, mas a oposição foi mais forte.

Apesar da oposição, a tendência à incineração cresce, pois as principais cidades brasileiras - São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Brasília, Porto Alegre, Curitiba - estão com seus aterros esgotados. E a coleta e o transporte de resíduos custa às prefeituras entre R$ 30 e R$ 120 por tonelada - o quer significa alguns bilhões de reais por ano. Pode ser até mais, se chegarmos à situação de Nova York (EUA), que passou a levar seu lixo em caminhões para mais de 500 quilômetros de distância, ou de Toronto (Canadá), com um comboio ferroviário levando todos os dias mais de 3 mil toneladas para mais de mil quilômetros de distância.

A reciclagem no Brasil, em usinas, é quase ridícula: menos de 2% do lixo. E nossa situação só não é mais grave graças ao trabalho heroico de 1 milhão de catadores que levam os resíduos sólidos para empresas que os reciclam - mais de 90% das latas de alumínio, mais de 40% do papel, do papelão e do vidro, em torno de 50% do PET. Mas a situação pode piorar se for aprovado (a decisão está pendente na Justiça) que bebidas alcoólicas e refrigerantes poderão ser envasados em PET.

A legislação aprovada pelo Congresso estabelece que os lixões terão de ser desativados até o fim do ano que vem. E que todos os municípios deverão promover a coleta seletiva e a reciclagem. Só que o prazo para a apresentação de projetos que poderão receber recursos públicos já se esgotou e menos de 10% deles os fizeram. Também a logística reversa - com o retorno de resíduos às empresas geradoras - é teoricamente obrigatória (só os sacos plásticos, no mundo, são 1 milhão por segundo, 500 bilhões por ano). Uma boa alternativa foi aberta pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), ao permitir consórcios intermunicipais em aterros para até 20 toneladas diárias - o que abrange 80% dos municípios com até 30 mil habitantes.

Quando se retorna à proposta de incineração, não se pode esquecer estudo da Unesp de Sorocaba que mostrou o desperdício de recursos que esse caminho (e outros) envolve, ao analisar o conteúdo das 135 toneladas diárias de resíduos levadas ao aterro da cidade de Indaiatuba: 91% deles eram reaproveitáveis ou poderiam ser compostados (transformados em fertilizantes) e/ou reciclados. E ainda economizando espaços no aterro.

Mas a pressão em favor da incineração é muito forte. Praticamente todas as grandes empreiteiras têm hoje empresas nessa área (e na coleta do lixo em todo o País), com influência muito forte nas políticas públicas, pois são as maiores contribuintes para campanhas eleitorais. Recife já adotou esse caminho, Brasília vai para o mesmo rumo, o Rio poderá segui-lo. E é um caminho praticamente irreversível, como mostram vários países europeus: apesar da oposição que enfrentam, será preciso produzir lixo até a eternidade para movimentar as usinas (que geram energia), a preços altíssimos.

É mais um desses temas em que grande parte da sociedade se mostra indignada com a falta de soluções. Mas até aqui se mostrou também contrária à solução que se tem mostrado mais eficaz em muitos lugares no mundo: criar uma taxa para todos os geradores de lixo, proporcional ao volume que produzam, com a receita financiando as boas soluções. A Alemanha, por exemplo, em alguns anos reduziu em até 15% seu lixo domiciliar e comercial.

Washington Novaes, jornalista, artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 26-04-2013.


sexta-feira, 19 de abril de 2013

Preconceito contra os índios ainda continua vivo




"Preconceito contra os índios ainda continua vivo", diz presidente da Funai

19 Abr 2013



A antropóloga e demógrafa Marta Maria do Amaral Azevedo, há quase um ano na presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai) , constata: "Existe um preconceito histórico contra os povos indígenas, que continua ainda muito vivo". Esse preconceito só diminuirá à medida que a sociedade brasileira conhecer melhor os índigenas. "Acreditamos que conhecendo mais, o preconceito diminui. Como os povos indígenas vivem e vão continuar vivendo no território brasileiro é questão que diz respeito a todos nós", diz ela, em entrevista ao jornal Valor Econômico.
São cerca de 250 etnias e 800 mil indígenas autodeclarados no Brasil, segundo o "Brasil Indígena", publicação que Funai e IBGE lançam hoje, no Dia Nacional do Índio. Desses, 500 mil vivem em terras indígenas e 300 mil não se reconhecem como pertencendo a um povo específico. Sofrem pressões da expansão da fronteira agrícola, da mineração, dos projetos de infraestrutura, de conflitos de terra. "Em regiões onde a ocupação econômica é mais antiga, há mais problemas. Ficou um passivo que começa a surgir agora", diz.
A Funai fica no meio deste tiroteio. Nesta entrevista ao Valor, Marta Azevedo rebate críticas de que o órgão atrasa licenciamentos, diz que uma meta da política indigenista atual é diminuir a desigualdade entre os indicadores desses povos e os dos não indígenas e afirma que a Funai foi abandonada em governos anteriores. "Estamos fazendo uma reestruturação e ela é muito recente."

Pergunta: Há críticas à Funai de falta de agilidade nos processos de licenciamento. O que acha delas?

Marta Maria do Amaral Azevedo: São completamente descabidas. A Funai tem obedecido todos os prazos legais estipulados pela regulamentação do licenciamento ambiental. Não somos um órgão licenciador, participamos na análise do componente indígena. E isso é muito recente. Foi o ex-presidente Márcio Meira que, a partir da reestruturação da Funai, criou uma pequena estrutura de técnicos para pensar essa questão. Antes isso era feito de uma maneira informal. A Funai fazia o diálogo com os povos indígenas, como sempre foi seu papel, mas não tinha um procedimento técnico com prazos e padrões para relatórios e estudos. Em 2012 criamos uma coordenação geral específica de licenciamento. Estamos aumentando o número de equipes técnicas, mas acho que não existe ainda nenhum mestrado ou doutorado em universidade que especialize antropólogos, biólogos e engenheiros florestais no componente indígena do licenciamento ambiental. Mas o governo tem valorizado a ação da Funai nos processos de licenciamento.

Pergunta: Como?

Marta: A Funai é o órgão que coordena e organiza a política indigenista do Estado brasileiro. Somos chamados a todas as reuniões que têm alguma relação com a questão indígena. O governo federal entende que a participação da Funai dá vez, voz e visibilidade à questão indígena em todos os processos que têm impacto sobre esses povos, que damos lisura a esses processos. Fazemos os termos de referência para os estudos de impacto ambiental que o empreendedor contrata e estudamos e avaliamos o componente indígena.

Pergunta: Porque se diz que a Funai tem sido ou é tão controversa?

Marta: Não é a Funai que gera controvérsias. O que gera polêmica, e aí não é uma questão só do governo federal, mas da sociedade brasileira, são modelos de desenvolvimento, a presença de povos indígenas em um Estado, como eles vão ficar. Questões que afetam a todos nós.

Pergunta: Por que a questão indígena é tão complicada?

Marta: Até a Constituição de 1988, os indígenas no Brasil eram vistos como uma categoria que ia se integrar à sociedade nacional. Era assim que se pensava: "A gente cerca ali uma aldeia para aqueles índios enquanto eles aprendem português e aprendem a viver na cidade, como não índios." Infelizmente até hoje tem muita gente que tem ainda essa visão, que os índios são obrigados a se integrar à sociedade nacional e a viver da mesma maneira que qualquer pessoa em qualquer cidade.

Pergunta: Por que é uma visão ruim?

Marta: Porque é colonialista. De que são obrigados, quando eles têm direito. Têm direito de morar na cidade se quiserem, direito de ir e vir como qualquer outro cidadão. Essa visão de obrigar os povos nativos a viverem como povos ocidentais é algo que mudou no mundo todo, não só no Brasil. Garantidos pela Constituição Federal, os índios têm direito de viver à sua maneira, falar suas línguas, processar suas crenças, sua economia. A perspectiva de futuro vai depender de cada um desses povos, de como se organizam, de como pensam o futuro junto aos brasileiros. E há aí outro problema.

Pergunta: Qual?

Marta: Todos os povos indígenas perderam população até 1960 e só depois começaram a ter uma recuperação. O aumento populacional exerce pressões sobre a demanda por terra. Muitas vezes isso assusta o pessoal que está fora da Amazônia Legal.

Pergunta: Qual é a diferença?

Marta: Depois da Constituição as terras indígenas começaram a ser demarcadas com outros critérios. Não era mais só fazer uma cerca ao redor das casas, mas tratava-se de demarcar terra para uso de roça, caça e pesca, para sobrevivência física e cultural dos povos indígenas. Até 2000, a prioridade foi dada para demarcar na Amazônia legal e com essa concepção. Mas fora de lá o que temos são pequeníssimas porções de terras demarcadas e com a concepção de aldeamento. Em regiões onde a ocupação econômica é mais antiga, há muito mais problemas. Ficou um passivo que começa a surgir agora.

Pergunta: Os guarani kaiowá são um exemplo?

Marta: Exatamente. O Mato Grosso do Sul foi criado em 1978 e veio o boom do desenvolvimento do Estado com a soja e gado, a abertura de fazendas. Essas comunidades guarani kaiowá viviam nesses matos onde as fazendas eram abertas. Eles então eram retirados de lá e colocados em oito reservas antigas, demarcadas em 1917, 1925. Essas áreas serviram para que os índios fossem sendo colocados lá quando o Estado ou a União titulava as fazendas ou quando eram vendidas. Houve um esbulho, eles foram tirados de seus locais tradicionais e jogados nas reservas antigas. Esse processo continuou a acontecer nos anos 90 com muita pouca ação dos governos estadual e federal. Hoje então, se tem um passivo enorme nessa questão. O problema foi ficando para a frente e foi se avolumando. E agora, a geração que foi retirada desses lugares originários, que hoje está com 60, 70 anos, diz que quer morrer no lugar em que nasceu. Sempre foi dito a eles que um dia poderiam voltar.

Pergunta: A Funai está resolvendo?

Marta: Temos processos de identificação desses territórios antigos, já publicamos um dos relatórios, vamos publicar outros. É uma questão muito complexa. Onde temos esses territórios antigos o Estado já titulou, ou a União, ou o fazendeiro comprou, é difícil. Temos tentado fazer um diálogo tanto com o governo estadual como com parlamentares para achar uma solução pacífica para os guarani kaiowá. É uma prioridade da minha gestão, porque acredito que são um dos povos com maior indicador de vulnerabilidade.

Pergunta: O conflito de terras está no cerne da dificuldade de se resolver a questão indígena no Brasil?

Marta: Não só. Nossa política indigenista é demarcar terra, mas não só isso. Temos que pensar junto com os povos indígenas o que fazer com os territórios, como fazer a gestão ambiental e territorial dessas terras. A outra grande missão da política indigenista atual do governo federal é melhorar a qualidade de vida desses povos, seus indicadores de saúde, de segurança alimentar. Diminuir a desigualdade que existe entre os indicadores dos povos indígenas e dos não indígenas. Temos que garantir aos índios, por exemplo, seu direito à documentação. Parece um detalhe bobo, mas os índios eram proibidos de colocar nome próprio nas suas línguas. Se iam estudar em uma escola, a escola não aceitava a matrícula, porque dizia que aquele era um nome muito esquisito. Procuramos garantir que eles tenham este direito, que as escolas ensinem nas línguas maternas, que as atividades produtivas levem em conta seus conhecimentos tradicionais. Em 5 de junho, a presidente Dilma assinou a Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial (PNGAT) que é exatamente isso, os princípios da política indigenista brasileira atual. Temos que conhecer, respeitar e levar em conta os conhecimentos tradicionais desses povos e com eles formular planos de gestão ambiental e territorial para as terras indígenas.

Pergunta: Como vê as ameaças que estão sobre os índios hoje? Há a pressão da mineração, a PEC indígena, a ocupação ao redor...

Marta: São ameaças históricas. Existe um preconceito histórico contra os povos indígenas, que continua ainda muito vivo. Acreditamos que conhecendo mais, tendo um diálogo, o preconceito diminui. As ameaças dependem de lugar para lugar, mas elas são pautadas pela falta de conhecimento. Como os povos indígenas vivem e vão continuar vivendo no território brasileiro é questão que diz respeito a todos nós.

Pergunta: Outro ponto de tensão são os projetos de desenvolvimento.

Marta: Sempre que há esses projetos, a Funai é chamada para tentar trazer os índios para essa conversa. E entender onde esses projetos irão impactar e ver junto com os índios como fazer. Se existe o "Luz para Todos" temos que ver com eles como a luz irá chegar às aldeias, como vão pagar, como será feita a manutenção das linhas. Os povos indígenas têm que participar como sujeitos desses projetos e não só como receptores.

Pergunta: Que falhas a Funai tem?

Marta: Foram muitos anos de pouquíssima valorização da instituição. Ficou largada, sem nenhum concurso. Sua reestruturação é muito recente, de 2009, 2010. Abriu-se um concurso porque grande parte dos 3 mil servidores da Funai se aposenta em julho. Conseguimos umas 600 vagas e agora estamos fazendo gestões para conseguir abrir novos concursos. Há áreas específicas que queremos fortalecer, como o licenciamento ambiental e a área social. Agora estamos em uma missão de qualificar e aumentar a nossa presença nas regiões, nas 38 coordenações regionais. Isso é absolutamente fundamental, é onde os índios têm suas necessidades.

Pergunta: Mas ela não representa os índios, essa é outra confusão, não?

Marta: Até a Constituição de 88, a Funai era tutora, os índios eram considerados incapazes juridicamente. Mas a tutela acabou ali. A Funai é um órgão do governo, não os representa. Eles se representam a si próprios, têm seus movimentos. São mais de 400 organizações indígenas hoje no Brasil.


Publicado dia 19 Abr 2013, no site www.ptnacamara.org.br




Extermínio de índios




Documento que registra extermínio de índios é resgatado após décadas desaparecido

Relatório de mais de 7 mil páginas que relatam massacres e torturas de índios no interior do país, dado como queimado num incêndio, é encontrado intacto 45 anos depois

Felipe Canêdo - 19/04/2013


Depois de 45 anos desaparecido, um dos documentos mais importantes produzidos pelo Estado brasileiro no último século, o chamado Relatório Figueiredo, que apurou matanças de tribos inteiras, torturas e toda sorte de crueldades praticadas contra indígenas no país – principalmente por latifundiários e funcionários do extinto Serviço de Proteção ao Índio (SPI) –, ressurge quase intacto. Supostamente eliminado em um incêndio no Ministério da Agricultura, ele foi encontrado recentemente no Museu do Índio, no Rio, com mais de 7 mil páginas preservadas e contendo 29 dos 30 tomos originais.

Em uma das inúmeras passagens brutais do texto, a que o Estado de Minas teve acesso e publica na data em que se comemora o Dia do Índio, um instrumento de tortura apontado como o mais comum nos postos do SPI à época, chamado “tronco”, é descrito da seguinte maneira: “Consistia na trituração dos tornozelos das vítimas, colocadas entre duas estacas enterradas juntas em um ângulo agudo. As extremidades, ligadas por roldanas, eram aproximadas lenta e continuamente”.

Entre denúncias de caçadas humanas promovidas com metralhadoras e dinamites atiradas de aviões, inoculações propositais de varíola em povoados isolados e doações de açúcar misturado a estricnina, o texto redigido pelo então procurador Jader de Figueiredo Correia ressuscita incontáveis fantasmas e pode se tornar agora um trunfo para a Comissão da Verdade, que apura violações de direitos humanos cometidas entre 1946 e 1988.

A investigação, feita em 1967, em plena ditadura, a pedido do então ministro do Interior, Albuquerque Lima, tendo como base comissões parlamentares de inquérito de 1962 e 1963 e denúncias posteriores de deputados, foi o resultado de uma expedição que percorreu mais de 16 mil quilômetros, entrevistou dezenas de agentes do SPI e visitou mais de 130 postos indígenas. Jader de Figueiredo e sua equipe constataram diversos crimes, propuseram a investigação de muitos mais que lhes foram relatados pelos índios, se chocaram com a crueldade e bestialidade de agentes públicos. Ao final, no entanto, o Brasil foi privado da possibilidade de fazer justiça nos anos seguintes. Albuquerque Lima chegou a recomendar a demissão de 33 pessoas do SPI e a suspensão de 17, mas, posteriormente, muitas delas foram inocentadas pela Justiça.

Os únicos registros do relatório disponíveis até hoje eram os presentes em reportagens publicadas na época de sua conclusão, quando houve uma entrevista coletiva no Ministério do Interior, em março de 1968, para detalhar o que havia sido constatado por Jader e sua equipe. A entrevista teve repercussão internacional, merecendo publicação inclusive em jornais como o New York Times. No entanto, tempos depois da entrevista, o que ocorreu não foi a continuação das investigações, mas a exoneração de funcionários que haviam participado do trabalho. Quem não foi demitido foi trocado de função, numa tentativa de esconder o acontecido. Em 13 de dezembro do mesmo ano o governo militar baixou o Ato Institucional nº 5, restringindo liberdades civis e tornando o regime autoritário mais rígido.

O vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo e coordenador do Projeto Armazém Memória, Marcelo Zelic, foi quem descobriu o conteúdo do documento até então guardado entre 50 caixas de papelada no Rio de Janeiro. Ele afirma que o Relatório Figueiredo já havia se tornado motivo de preocupação para setores que possivelmente estão envolvidos nas denúncias da época antes de ser achado. “Já tem gente que está tentando desqualificar o relatório, acho que por um forte medo de ele aparecer, as pessoas estão criticando o documento sem ter lido”, acusa.

Suplícios

O contexto desenvolvimentista da época e o ímpeto por um Brasil moderno encontravam entraves nas aldeias. O documento relata que índios eram tratados como animais e sem a menor compaixão. “É espantoso que existe na estrutura administrativa do país repartição que haja descido a tão baixos padrões de decência. E que haja funcionários públicos cuja bestialidade tenha atingido tais requintes de perversidade. Venderam-se crianças indefesas para servir aos instintos de indivíduos desumanos. Torturas contra crianças e adultos em monstruosos e lentos suplícios”, lamentava Figueiredo. Em outro trecho contundente, o relatório cita chacinas no Maranhão, em que “fazendeiros liquidaram toda uma nação”. Uma CPI chegou a ser instaurada em 1968, mas o país jamais julgou os algozes que ceifaram tribos inteiras e culturas milenares.

Felipe Canêdo


Publicação extraída do Estado de Minas Notícias  www.em.com.br 
19/04/2013


quinta-feira, 18 de abril de 2013

A Economia Verde é imediatista - J E Veiga



16/04/2013

"A Economia Verde é imediatista"

Camila Nobrega, do Canal Ibase


Durante mais de um século, multiplicaram-se teorias econômicas que não levavam em conta a natureza em cálculo algum. Atualmente, porém, só cresce o número de economistas que começam a olhar para a economia não como um sistema isolado, mas como parte de um todo, submetida às leis da natureza e aos impactos que causa nos homens. São os chamados economistas ecológicos, que propõem uma visão mais ampla do sistema. Entre as principais referências do tema no país está o economista e professor da Universidade de São Paulo (USP) José Eli da Veiga, autor de 21 livros, que assina a abertura do livro “O Decrescimento – entropia, ecologia, economia”, lançado mês passado pela editora Senac. É a primeira tradução em português da obra do matemático e economista romeno Georgescu-Roegen, cujo pensamento foi renegado por décadas entre os círculos da área e, agora, está sendo retomado. Nesta entrevista, José Eli fala não apenas da teoria de Georgescu, como do crescimento da Economia Ecológica em si, em oposição à Economia Verde.


Canal Ibase – Qual o significado da chegada da obra de Georgescu-Roegen ao Brasil?

José Eli da Veiga – Muitos jovens ainda hoje saem das faculdades de Economia do país sem ter lido a obra dele. Na década de 1970, Roegen publicou livros e artigos importantes que não foram reconhecidos pela academia. A incorporação da Lei da Entropia (2ª lei da termodinâmica, cuja essência é a degradação da energia em sistemas isolados) na economia, proposta pela primeira vez por ele, não foi bem aceita e Georgescu foi posto de lado. Nos últimos tempos, ele tem sido revisto, mas no Brasil só havia obras circulando em francês, o que dificultava o acesso de alunos. Consegui, finalmente, que este autor fosse publicado em português. Ele foi um gênio, precisa ser mais lido.

CI – Embora ele mesmo nunca tenha usado essa denominação, Roegen foi uma das principais inspirações para o movimento da Economia Ecológica. Como o pensador via a questão do limite da natureza para o crescimento da economia?

JEV – Não se trata exatamente de limites, como alguns economistas falam hoje. O foco dele era outro. Georgescu teve, ainda nos anos 1960, um estalo sobre a Lei da Entropia. Ele jogou luz sobre o fato de que os economistas lidavam com a produção econômica como algo independente, isolado. Os recursos naturais eram vistos como infinitos, e por isso não entravam na conta. Só que este romeno percebeu a relação de interdependência entre ambos. A Lei da Entropia não pode simplesmente ser descartada, porque ela age sobre a economia.

CI – Ou seja, ele percebeu que existe uma perda de energia associada aos processos econômicos, certo? E há energia dissipada que nunca se recupera…

JEV – Sim, o foco dele não é sobre o esgotamento de recursos. Ele é anterior à discussão sobre mudanças climáticas, que está em voga hoje. Georgescu se debruçou sobre o fato de que os recursos naturais têm uma energia que se dissipa, à medida que são usados pela economia. No início da carreira, ele tinha o foco de estudo voltado para o consumo. Depois, percebeu que precisava se dedicar à questão da produção. E concluiu que, uma vez utilizados para a produção de algo, os recursos terão uma parte de energia que nunca mais será utilizada. É uma parte que se perde no processo. Mas os cálculos de produção na economia não levam isso em conta. Tomemos como exemplo as energias fósseis. Para Georgescu, o limite do crescimento se daria ao passo que a utilização delas reduziria a quantidade de energia inicial do processo.

CI – Mas o pensamento dele ainda não chegou à esfera prática da economia. Em conferências internacionais sobre o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, como a Rio+20, Conferência da ONU realizada ano passado, esta abordagem não passou nem perto das salas de conferência…

JEV – Eu não esperava mesmo que um encontro como a Rio+20 discutisse esse tipo de assunto. Ocorre que os prazos dessa discussão proposta por Georgescu talvez sejam séculos. Não sabemos quando vai acontecer, mas a perda gradual desses recursos naturais vai levar a um ponto máximo. Na Rio+20, discutem-se soluções mais imediatas. A transição de que se fala nessas salas de conferência é outra, que as Nações Unidas chamaram de Economia Verde. Já Georgescu foi um dos pais da Economia Ecológica, que defende uma outra transição, não apenas tecnológica. Ele acredita também que, em algum momento, haverá decrescimento. A economia, segundo ele, não poderá se manter apenas estável.

CI – E, dentro da Economia Verde, as propostas são de adequações mais simples. Não há uma grande mudança de paradigma econômico, certo?

JEV – É outro foco. Na discussão atual, existe uma crença de que vai haver descolamento entre crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, a medida de riqueza mais utilizada como parâmetro de comparação no mundo) e os impactos ambientais. A ideia é que o avanço tecnológico vai permitir a manutenção do crescimento econômico. Ou seja, a tese da Economia Verde é que, em determinado momento, o PIB poderá continuar aumentando e os impactos vão diminuindo. Para isso, economistas desta corrente apresentam dados sobre queda de emissões de carbono por unidade de produção. Na prática, significa que para cada unidade produzida, a quantidade de carbono usada diminuiu. Mas isso só serve em termos relativos. Quando pegamos o conjunto total, como a produção aumenta, a quantidade absoluta também cresce.
O impacto na atmosfera, portanto, continua aumentando e muito. O único argumento novo que deve ser analisado ainda é em relação à Inglaterra. Estudos recentes mostram que o país está conseguindo manter o PIB em crescimento, reduzindo as emissões.

CI – Mas, nesse caso, estamos falando de um país com um desenvolvimento mais avançado, e com condições de apostar em inovações tecnológicas. No entanto, se as nações mais pobres dependerem de tecnologias que não podem bancar, sem que haja transferência, como elas farão?

JEV – Aí está o problema. Será que a humanidade resolverá os novos desafios tratando o problema com as mesmas receitas antigas. Nesse caso, não se atacam os sintomas. A Inglaterra é um caso de economia madura, e parece que o mesmo processo pode estar acontecendo também na Holanda. Mas o cenário encontrado lá não é o mesmo de países pobres. Será possível apostar nesse modelo, e que todos os países alcançariam uma maturidade que os permitiria crescer, reduzindo, por meios tecnológicos, os impactos ambientais?

CI – Ainda assim, este pensamento não leva em conta os impactos sociais associados ao crescimento econômico desenfreado. Estas questões fazem parte da Economia Ecológica?

JEV – Sim, a economia não pode ser vista como um sistema isolado nem das questões ambientais, nem sociais. Estamos falando sempre de uma mesma coisa. No caso da Inglaterra, por exemplo, estamos falando de uma economia madura em vários sentidos. É uma sociedade cujo acesso a serviços é outro, onde há um parâmetros de educação, saúde mais elevados e compartilhados pela população. Não é a economia em si, isoladamente, que levará nações a reduzirem impactos socioeconômicos significativos.

(Canal Ibase)




Engarrafamentos: o futuro que o governo planeja




Engarrafamentos: o futuro que o governo planeja

18/04/13 

Artigo de Fábio Feldmann - Consultor em sustentabilidade

É impossível deixar de comentar as declarações da presidente da Petrobras, Graça Foster, em entrevista recente ao jornal Zero Hora (13/04/13): "Acho lindo engarrafamento. Meu negócio é vender combustível".

Elas refletem o aspecto de sinceridade de uma pessoa que ocupa um dos mais cobiçados postos da República: a estatal tem orçamento maior que muitos ministérios, estados e capitais brasileiras, sendo também a maior compradora de bens e serviços do mercado.

Vale lembrar que a madrinha de Graça é nada mais, nada menos que a Presidente Dilma.
A Petrobras, na gestão de seu ex-presidente, enfrentou uma polêmica importante com ambientalistas ao se negar a cumprir a Resolução do Conama 315/2002, que garantia a disponibilidade de um diesel com menor teor de enxofre.

Após a exclusão da empresa do ISE - Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bovespa e da retirada, pelo Conar - Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, de publicidade que afirmava seus "atributos ambientais", houve um acordo judicial que, enfim, obrigou a empresa a respeitar a legislação ambiental brasileira.

É importante lembrar que o Conselho de Administração da Petrobras à época era exercido pela Presidente Dilma Roussef, o que significa que a mesma participou direta ou indiretamente das decisões administrativas tomadas naquele período.

Recentemente, a prefeitura de São Paulo promoveu radicais mudanças no Programa Paulistano de Inspeção e Manutenção Veicular com grave repercussão à saúde da população, a pretexto de garantir uma economia de R$ 0,12 por dia aos paulistanos proprietários de automóveis e uma economia de no máximo duas horas anuais para a realização do teste de inspeção.

Redução de impostos dos automóveis e facilitação do crédito completam a obra do governo federal que está transformando, a cada dia, as nossas cidades em "grandes estacionamentos ambulantes". E com o beneplácito explícito da oposição, se é que ela existe.

Bandeiras a favor de transporte público barato, eficiente e não poluidor não encontram ressonância entre os principais partidos políticos do país.

Como consequência, nos aproximamos de novos tempos nos quais o rodízio de automóveis será implantado em praticamente todas as cidades médias brasileiras, pela falta de outra alternativa que permita a mobilidade mínima nos sistemas viários destas cidades.

A minha geração era portadora de uma esperança ingênua de que a democracia abriria as portas para a discussão de políticas públicas, que permitissem uma melhoria na qualidade de vida dos brasileiros. E, mais do que isso, assegurar às futuras gerações melhores oportunidades em termos de saúde, educação, segurança e sustentabilidade.

Mas, o que temos constatado é uma substituição incontestável de uma visão necessária de médio prazo por políticas de impacto imediato, que comprometem o futuro. Qualquer futuro.

Graça Foster revelou, na sua sinceridade, o que o governo federal planeja para as nossas cidades: um caos urbano comprometendo as nossas vidas.

Fábio Feldmann é consultor em sustentabilidade

terça-feira, 9 de abril de 2013

O Fórum dos Patrões



O Fórum dos Patrões

A TVCOM do Grupo RBS transmitiu ao vivo o Fórum da Liberdade, e seu presidente, Nelson Sirotsky foi mediador de painel. Este Fórum é um evento de empresários neoliberais, que defendem o Estado mínimo e o lucro máximo. Houve muito discurso em defesa da liberdade de expressão. Incontestavelmente, ver pessoas na defesa das liberdades é algo muito bom. Porém, complica quando a família Sirotsky, a família Marinho, os donos da Abril, etc, se acham os guardiões da liberdade de expressão, quando confundem a liberdade/interesse das suas empresas com a liberdade/interesse da sociedade ou mesmo dos jornalistas.

Como bem sabemos, a Globo tem farto currículo de manipulação, e o pior ainda, de apoio ao golpe militar de 64, que colocou o Brasil sob ditadura por longos anos. A Globo resistiu apoiar a redemocratização pelas Diretas Já, e de forma grosseira manipulou a edição do debate de Lula X Collor na eleição presidencial de 1989, que foi ao ar no Jornal Nacional do dia seguinte, obviamente, favorecendo o liberal Fernando Collor.

Os donos do Fórum, fizeram todo esforço que estava ao alcance para confundir a opinião pública sobre o debate da democratização da mídia. Rejeitam qualquer debate sobre o assunto. Eles sabem, mas nunca vão dizer, obviamente, que um novo marco legal poderia ampliar a pluralidade e as liberdades. E que seria saudável para a democracia se ampliássemos os veículos de comunicação, se multiplicássemos as vozes - realmente - livres. Mas é claro, para dar espaço a muitos outros, teria-se que contrariar interesses dos - poucos - grandes grupos, mas que, certamente ajudaria muito para consolidar e qualificar a nossa democracia, afastando qualquer tentativa autoritária.

Um novo marco legal deve ser contra a censura e ou tutela estatal, pelo contrário, deve aumentar a pluralidade e as possibilidades para a sociedade. Porém, deve limitar o tamanho e o poder de apenas poucos veículos controlarem a opinião pública. Na perspectiva de legislações existentes na Europa, por exemplo. O debate sobre regras, com o objetivo de aperfeiçoar a democracia.

Ainda sobre o conteúdo do Fórum, que é totalmente ideológico, um exemplo é de Marcos Troyjo, que palestrou neste Fórum dos patrões, que em entrevista ao jornal Zero Hora (08/04/2013) definiu a legislação trabalhista brasileira como "medieval", e naturalmente, defendeu reforma trabalhista. Como definir uma pessoa que pensa assim? Ocorre, que os direitos trabalhistas são justamente o oposto do atraso, representam a entrada do Brasil na modernidade, possibilitando inserção dos trabalhadores na economia e na vida social, com garantias básicas como férias, limite de jornada de trabalho, ganho de horas de trabalho extra, etc. Então, medieval e arcaico é tentar retroceder e não valorizar a importância os direitos dos trabalhadores.

Outro palestrante chega a ser patético, uma verdadeira aberração. Trata-se do Yaron Brook que na entrevista que deu a Zero Hora (08/04/2013) afirmou que esta crise (do capitalismo mundial) “é uma crise do excesso de regulação”. Ainda bem que não devem dar ouvidos pra ele, são muitos líderes e economistas na Europa e nos EUA defendendo a necessidade de maior controle, e que o mercado sem regulação levou a existência da crise. Se não fosse o Estado intervir poderia haver danos sociais incalculáveis.

Enfim, o Fórum da Liberdade é o Fórum dos Patrões e o Fórum das ideias atrasadas, que levaram o mundo a esta profunda crise mundial.

Demilson Fortes
Porto Alegre, abril 2013.