A FORÇA
DA IMAGEM DO PT
Marcos
Coimbra –
Carta
Capital nº 699 de 30 de maio de 2012
Ao contrário do que se costuma pensar, o sistema partidário
brasileiro tem um enraizamento social expressivo. Ao considerar
nossas instituições políticas, pode-se até dizer que ele é muito
significativo. Em um país com democracia intermitente, baixo acesso
à educação e onde a participação eleitoral é obrigatória, a
proporção de cidadãos que se identificam com algum partido chega a
ser surpreendente.
Se há, portanto, uma coisa que chama a atenção no Brasil não é
a ausência, mas a presença de vínculos partidários no eleitorado.
Conforme
mostram as pesquisas, metade dos eleitores tem algum vínculo.
Seria
possível imaginar que essa taxa é consequência de termos um amplo
e variado multipartidarismo, com 29 legendas registradas. Com um
cardápio tão vasto, qualquer um poderia encontrar ao menos um
partido com o qual concordar.
Mas não
é o que acontece. Pois, se o sistema partidário é disperso, as
identificações são concentradas. Na verdade, fortemente
concentradas.
O Vox
Populi fez recentemente uma pesquisa de âmbito nacional sobre o
tema. Deu o esperado: 48% dos entrevistados disseram simpatizar com
algum partido. Mas 80% desses se restringiram a apenas três: PT (com
28% das respostas), PMDB (com 6%) e PSDB (com 5%). Olhado desse modo,
o sistema é, portanto, bem menos heterogêneo, pois os restantes 26
partidos dividem os 20% que sobram. Temos a rigor apenas três
partidos de expressão.
Entre os
três, um padrão semelhante. Sozinho, o PT representa quase 60% das
identidades partidárias, o que faz com que todos os demais,
incluindo os grandes, se apequenem perante ele.
Em
resumo, 50% dos eleitores brasileiros não têm partido, 30% são
petistas e 20% simpatizam com algum outro – e a metade desses é
peemedebista ou tucana. Do primeiro para o segundo, a relação é de
quase cinco vezes.
A
proeminência do PT é ainda mais acentuada quando se pede ao
entrevistado que diga se “simpatiza”, “antipatiza”ou se não
tem um ou outro sentimento em relação ao partido. Entre “muita”
e “alguma simpatia”, temos 51%. Outros 37% se dizem indiferentes.
Ficam 11%, que antipatizam “alguma” coisa ou “muito” com ele.
Essa
simpatia está presente mesmo entre os que se identificam com os
demais partidos. É simpática ao PT a metade dos que se sentem
próximos ao PMDB, um terço dos que gostam do PSDB e metade dos que
simpatizam com os outros.
Se o
partido é visto com bons olhos por proporções tão amplas, não
espanta que seja avaliado positivamente pela maioria em diversos
quesitos: 74% do total de entrevistados o consideram um partido
“moderno” (ante 14% que o acham “ultrapassado”); 70% entendem
que “tem compromisso com os pobres”(ante 14% que dizem que não);
66% afirmam que “busca atender ao interesse da maioria da
população” (ante 15% que não acreditam nisso).
Até em
uma dimensão particularmente complicada seu desempenho é positivo:
56% dos entrevistados acham que “cumpre o que promete” (enquanto
23% dizem que não). Níveis de confiança como esses não são
comuns em nosso sistema político.
Ao
comparar os resultados dessa pesquisa com outras, percebe-se que a
imagem do PT apresenta uma leve tendência de melhora nos últimos
anos. No mínimo, de estabilidade. Entre 2008 e 2012, por exemplo, a
proporção dos que dizem que o partido tem atuação “positiva na
política brasileira” foi de 57% a 66%.
A
avaliação de sua contribuição para o crescimento do País também
se mantém elevada: em 2008, 63% dos entrevistados estavam de acordo
com a frase “O PT ajuda o Brasil a crescer”, proporção que foi
a 72% neste ano.
O
sucesso de Lula e o bom começo de Dilma Rousseff são uma parte
importante da explicação para esses números. Mas não seria
correto interpretá-los como fruto exclusivo da atuação de ambos.
Nas suas
três décadas de existência, o PT desenvolveu algo que inexistia em
nossa cultura política e se diferenciou dos demais partidos da
atualidade: formou laços sólidos com uma ampla parcela do
eleitorado. O petismo tornou-se um fenômeno de massa.
Há, é
certo, quem não goste dele – os 11% que antipatizam, entre os
quais os 5% que desgostam muito. Mas não mudam o quadro.
Ao se
considerar tudo que aconteceu ao partido e ao se levar em conta o
tratamento sistematicamente negativo que recebe da chamada “grande
imprensa”- demonstrado em pesquisas acadêmicas realizadas por
instituições respeitadas – é um saldo muito bom.
É com
essa imagem e a forte aprovação de suas principais lideranças que
o PT se prepara para enfrentar os difíceis dias em que o coro da
indústria de comunicação usará o julgamento do mensalão para
desgastá-lo.
Conseguirá?
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