Como os muito ricos estão destruindo a economia dos EUA
Robert
Reich
Postado
em 04 jun 2013 por Common Dreams
O
artigo publicado originalmente no site Common Dreams.
Como
o presidente Obama disse em seu discurso de posse, os Estados Unidos
“não podem ter sucesso quando poucos enriquecem cada vez mais e
muitos mal sobrevivem”.
No
entanto, essa continua sendo a direção que seguimos.
Uma
análise recém-divulgada pelo Instituto de Política Econômica
mostra que os super-ricos têm tido um bom desempenho na recuperação
econômica, enquanto quase todos os outros vão mal. Um por cento dos
assalariados viu seu salário crescer 8,2 por cento de 2009 a 2011,
mas os salários anuais de 90% dos americanos continuaram a declinar
na recuperação.
Em
outras palavras, estamos de volta à desigualdade anterior à bolha
que explodiu em 2008.
Mas
o presidente está certo. Nem mesmo os muito ricos podem continuar a
ter êxito sem uma prosperidade mais ampla. Isso porque 70% da
atividade econômica nos Estados Unidos é o consumo. Se os 90% estão
cada vez mais pobres, eles são menos capazes de gastar. Sem seus
gastos, a economia não sai da primeira marcha.
Essa
é uma grande razão pela qual a recuperação continua a ser
anêmica, e por que o Fundo Monetário Internacional reduziu sua
estimativa para o crescimento dos EUA em 2013 para apenas 2%.
Quase
um quarto de todos os empregos nos Estados Unidos pagam salários
abaixo da linha de pobreza para uma família de quatro pessoas. O
Bureau of Labor Statistics estima que o crescimento para a próxima
década será de baixos salários – como servir clientes em grandes
redes varejistas e cadeias de fast food.
Americanos
ricos estariam melhores com partes menores de uma economia em rápido
crescimento, do que com os grandes pedaços que agora possuem de uma
economia que está mal se movendo.
Neste
ritmo, quem é que vai comprar todos os bens e serviços que a
América é capaz de produzir? Nós não podemos voltar para o tipo
do débito financiado que causou a bolha, em primeiro lugar.
Se
fossem racionais, os ricos iriam apoiar investimentos públicos em
educação e formação profissional, uma infra-estrutura de classe
mundial (transporte, água e esgoto, energia, internet), e pesquisa
básica – que faria a força de trabalho americana mais produtiva.
Se
fossem racionais, eles até mesmo apoiariam os sindicatos. Mas os
sindicatos estão quase extintos.
O
declínio dos sindicatos na América segue exatamente o declínio da
classe média.
Na
década de 1950, quando a economia dos EUA estava crescendo mais
rápido do que 3% ao ano, mais de um terço de todas as pessoas que
trabalham pertencia a um sindicato. Isso lhes deu cacife de
negociação suficiente para obter salários que lhes permitiram
comprar o que a economia foi capaz de produzir.
Desde
o final de 1970, os sindicatos têm corroído – como corroeu o
poder de compra da maioria dos americanos, e não por coincidência,
o crescimento médio anual da economia.
De
quem é a culpa? Parcialmente da globalização e das mudanças
tecnológicas. A globalização enviou muitos trabalhadores para o
exterior.
A
fabricação está começando a voltar para a América, mas está
retornando sem muitos empregos. A linha de montagem foi substituída
pela robótica e por máquinas-ferramentas de comando digital.
As
tecnologias também substituíram muitos ex-trabalhadores
sindicalizados em telecomunicações (lembra-se das operadoras de
telefonia?).
Mas
espere um pouco. Outras nações sujeitas às mesmas forças têm
níveis muito mais elevados de sindicalização do que a América.
28% da força de trabalho do Canadá é sindicalizada, como mais de
25% na Grã-Bretanha e quase 20% na Alemanha.
Os
sindicatos estão quase extintos na América porque nós escolhemos
isso.
Ao
contrário de outros países ricos, nossas leis trabalhistas permitem
que os empregadores possam substituir trabalhadores em greve. Nós
também tornamos extremamente difícil para os trabalhadores se
organizarem e mal penalizamos as empresas que violam as leis
trabalhistas.
O
salário médio de um trabalhador do Walmart é de 8,81 dólares por
hora. Um terço dos empregados do Walmart trabalham menos de 28 horas
por semana e não se qualificam para os benefícios.
O
Walmart é um microcosmo da economia americana, que descaradamente
lutou contra os sindicatos. Mas poderia facilmente pagar mais a seus
funcionários. Ganhou 16 bilhões de dólares no ano passado. Grande
parte dessa quantia foi para os acionistas do Walmart, incluindo a
família de seu fundador, Sam Walton.
A
riqueza da família Walton agora excede a riqueza de 40% das famílias
americanas combinadas, de acordo com uma análise do Instituto de
Política Econômica.
Mas
como o Walmart espera continuar lucrando quando a maioria de seus
clientes está descendo uma escada rolante econômica?
O
Walmart deve ser sindicalizado. Assim como o McDonalds. Assim como
cada varejista e rede de fast-food do país. Assim como todos os
hospitais nos Estados Unidos.
Dessa
forma, mais americanos terão bastante dinheiro em seus bolsos para
colocar a economia em movimento. E todos – mesmo os muito ricos –
serão beneficiados.
Como
disse Obama, a América não pode ter sucesso quando alguns poucos
vão muito bem enquanto muitos mal sobrevivem.
Robert Reich é comentarista econômico e político nos Estados Unidos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário