sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

A IMANÊNCIA DOS MEUS SONHOS

A IMANÊNCIA DOS MEUS SONHOS
(Demilson Fortes)

Tenho andando “preocupado” ultimamente. Não como “pré-ocupação”. Mas como “ocupado fixamente”. Inquieto. Absorvido. Enfim, preocupado. Pois, o tempo passa e eu não me distancio de meus sonhos de muito tempo atrás. Sonhos subversivos. De Mudanças. Vejo tantos contemporâneos meus de adolescência e universidade, que na sua maioria já mudaram. Redefiniram suas vidas. E, mudar o mundo e as coisas já não está entre suas prioridades, ou nem mais nos seus horizontes. Como bem falou um dia há muito tempo atrás um velho conhecido: “o sistemão pega”. Se não pega por inteiro, pelo menos em parte, o suficiente para imobilizar. Acomodar. Resignar. Parar.

Inspirado em Cazuza: “E aqueles que iam mudar o mundo, assistem agora tudo em cima do muro”. Muitos vão tropeçando e caindo do muro para o outro lado de onde estivemos juntos. Muitos vão arrumando justificativas para suas opções. Vão cansando. Como Belchior questiona cantando: “Onde anda a tipo afoito que em um, nove, meia, oito, queria tomar o poder. Hoje rei vaselina, corrreu de carrão pra China. Só toma mesmo aspirina, e não quer nem saber”.

Lembro de Oscar Niemeyer que completou recentemente seus cem anos de idade e permanece fiel aos seus sonhos de sociedade e vida. E de tantos outros que são referências importantes de vida, de coerência e ativismo político-social. Mas preocupa-me a minha situação. Pois, comprar o carro do ano, bonito e potente e tantas outras coisas normais para quem já passou dos trinta não me seduz tanto. E isso me preocupa agora. Vejamos bem: é normal neste mundo, alguém do Sul da América do Sul interessar-se pela situação dos indígenas do México, dos aborígines da Austrália, pela situação das mulheres do oriente médio, pela desnutrição das crianças da África, pela condição dos brasileiros do semi-árido nordestino que padecem coma seca, pela morte de inocentes pela pena de morte nos Estados Unidos, pelos silenciados em Cuba, pelo futuro dos jovens da Palestina?

A vida muda e o mundo tem seu dinamismo. Tento entender que isso explica porque “Até bem pouco tempo atrás podería-se mudar o mundo.... Mas quem roubou essa coragem?” (Renato Russo). Mas, definitivamente eu não sou uma pessoa normal. Muitas questões que me impulsionavam há um bom tempo, continuam a pulsar, permanecem intactas. E, isso me preocupa.

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