segunda-feira, 14 de abril de 2014

Mudanças climáticas


Três reportagens sobre mudanças climáticas




Emissões mundiais da agropecuária dobram em 50 anos


Pela primeira vez, FAO analisou as emissões globais decorrentes da agricultura, pecuária, silvicultura e pesca. No Brasil, agropecuária é o setor que mais emite gases do efeito estufa.

As emissões de gases do efeito estufa provenientes da agropecuária, silvicultura e pesca praticamente dobraram nos últimos 50 anos. Até 2050, esse volume deve crescer 30% caso a expansão do setor continue no ritmo atual e nada aconteça para frear as emissões. O alerta é da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) em um relatório divulgado nesta sexta-feira (11/04).

Esta é a primeira vez que as emissões da agricultura são calculadas em nível global. "Os novos dados da FAO são a fonte de informação mais completa já feita sobre a contribuição da agricultura para o aquecimento global. Até agora, cientistas e autoridades tinham dificuldades para formular decisões estratégicas como resposta para as mudanças climáticas devido à falta de informação. Essa lacuna também impedia os esforços para mitigar as emissões da agricultura", afirma Francesco Tubiello, da FAO.

O documento aponta que, em 2001, a agropecuária emitiu aproximadamente 4,7 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalentes (CO2e). Em dez anos, as emissões aumentaram 14%, atingindo um volume de 5,3 bilhões de toneladas de CO2e em 2011. O maior crescimento ocorreu nos países em desenvolvimento, que expandiram esse setor.

Em contrapartida, as emissões do uso do solo e desmatamento reduziram cerca de 10% no mesmo período. A média foi de três bilhões de CO2e. A queda do desmatamento foi a principal responsável por essa redução. No Brasil, dono da maior reserva de floresta tropical, o corte de árvores caiu 77,8% entre 2004 e 2011, segundo dados do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia).

Uso em geral
O relatório aponta a pecuária como maior vilã do setor: a atividade foi responsável por 39% de todas as emissões em 2011. Os gases, principalmente o metano, são fruto da fermentação entérica, ou seja, do processo digestivo de bois, ovinos e caprinos. A expansão dessa atividade contribuiu para o aumento de 11% da produção de metano pelo gado entre 2001 e 2011. Índia e Brasil são donas dos maiores rebanhos bovinos do mundo.

Nesse mesmo período, as emissões provenientes da aplicação de fertilizantes sintéticos aumentaram 37%. Em 2011, elas representam 14% da emissão total. A grande maioria dos gases do efeito estufa provenientes da agricultura, ou seja 45%, vieram da Ásia, seguida pela América com 25%, da África com 15%, da Europa com 11% e da Oceania com 4%.

O relatório também mediu as emissões resultantes do uso de energia no setor agrícola como, por exemplo, a eletricidade e combustíveis fósseis queimados nessas atividades. Em 2010, essa taxa foi de 785 milhões de toneladas de CO2e, representando um aumento de 75% em relação a 1990.

Emissões brasileiras
No Brasil, segundo os dados oficiais mais recentes, a agropecuária é a líder de emissões no país, responsável por 35% de todas as emissões de CO2e desde 2010. O volume total emitido pelo setor naquele ano foi de 437,2 milhões de toneladas. Em relação a 2005, houve um crescimento de 5,2%.
Essa elevação ocorreu devido à expansão do rebanho bovino e ao aumento do uso de fertilizantes nitrogenados. Para reduzir as emissões neste setor, o governo brasileiro lançou em 2010 o programa Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC). O país pretende reduzir entre 36,1% e 38,9% as emissões de gases do efeito estufa até 2020 com base nos números de 1990.
Uma das principais metas do plano é a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas. Se cumpridos, os objetivos podem contribuir para uma redução de 133,9 milhões de toneladas até 162,9 milhões de CO2e.




ONU diz que mudanças climáticas elevam risco de conflitos no mundo

Documento divulgado no Japão afirma que as crescentes emissões de gases do efeito estufa ampliam o risco de conflitos, fome, enchentes e migrações em massa e diz que efeitos das mudanças climáticas já podem ser sentidos.

A segunda parte do quinto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), da ONU, alerta governos de todo o mundo sobre os perigos práticos que as mudanças climáticas podem ter sobre as vidas das pessoas.

O documento, aprovado por unanimidade por mais de cem países e divulgado nesta segunda-feira (31/03) em Yokohama, no Japão, afirma que as crescentes emissões de gases do efeito estufa ampliam o risco de conflitos, fome, enchentes e migrações em massa.

"O aumento da magnitude do aquecimento eleva a probabilidade de impactos graves, penetrantes e irreversíveis", diz o relatório. O texto utilizou como base mais de 12 mil estudos científicos e foi classificado como um dos "mais completos da história" pelo secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial, Michel Jarraud.

O informe ainda alerta que o impacto dessas mudanças não será sentido igualmente em todo o mundo, resultando num aumento da desigualdade entre ricos e pobres, saudáveis e doentes, jovens e velhos, e homens e mulheres.

Segundo o documento, alguns lugares terão água demais, enquanto outros terão pouco acesso à água potável. Outros riscos mencionados são referentes ao preço e à disponibilidade de alimentos, às doenças e até mesmo à paz mundial.

Apelo para a ação
O relatório é explícito ao afirmar que os efeitos das mudanças climáticas já podem ser sentidos pelas pessoas e percebidos no meio ambiente. Esses efeitos serão ainda maiores se nada for feito para evitar o aquecimento global.

"Antes apenas podíamos supor que algumas alterações tivessem uma relação com as mudanças climáticas, mas agora há acontecimentos sobre os quais podemos afirmar que foram causados pelo clima. Por exemplo, a seca na Austrália", afirma Jarraud. "Já que não há nenhuma dúvida de que o clima está mudando", apontou, sublinhando que "95% dessas mudanças se devem à ação humana".
O documento diz que desastres do século 21 como as ondas de calor na Europa, os incêndios florestais nos Estados Unidos, as secas na Austrália e as enchentes na Ásia apenas destacam o quão vulnerável a humanidade é a extremas condições climáticas. "É um apelo para agirmos", afirma o presidente do IPCC, Rajendra Pachauri. Segundo ele, se os governos mundo afora não reduzirem suas emissões de carbono, o impacto do aquecimento global pode ficar "fora de controle".

Alerta global
Parte do informe desta segunda-feira, porém, discute o que pode ser feito para tentar amenizar os efeitos do problema. Entre as soluções propostas estão a redução da poluição, a adaptação às mudanças climáticas e o planejamento sustentável.

O documento ainda recomenda a redução do desperdício de água, a construção de parques arborizados para aliviar o calor em grandes cidades, e a prevenção do assentamento de pessoas em lugares expostos a condições climáticas extremas.

O relatório é o primeiro do IPCC a ser divulgado desde 2007, quando um forte documento foi publicado, causando uma onda de ações políticas que indicavam um possível acordo global sobre o tema em Copenhagen em 2009.

No entanto, nações presentes na conferência da Dinamarca falharam em chegar a um consenso sobre o tema. A expectativa agora se volta para a Conferência do Clima de 2015, quando um novo tratado internacional nos moldes do Protocolo de Kyoto, criado em 1997 e extinto em 2012, deve ser assinado.

RM/AS/dw/afp/ap/dpa/lusa




Influência humana é clara no aquecimento "inequívoco" do planeta, diz IPCC


Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas divulga primeira parte de estudo sobre aumento da temperatura no globo e afirma que últimas três décadas foram sucessivamente mais quentes que qualquer outra desde 1850.

O aquecimento do planeta é "inequívoco", a influência humana no aumento da temperatura global é "clara", e limitar os efeitos das mudanças climáticas vai requerer reduções "substanciais e sustentadas" das emissões de gases de efeito estufa. A conclusão é do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que divulgou nesta quinta-feira (30/01), em Genebra, a primeira parte do quinto relatório sobre o tema.

Os cientistas do IPCC – que já foram premiados com o Nobel da Paz em 2007 – fizeram um apelo enfático para a redução de gases poluentes. "A continuidade das emissões vai continuar causando mudanças e aquecimento em todos os componentes do sistema climático", afirmou Thomas Stocker, coordenador e principal autor da Parte 1 do quinto Relatório sobre Mudanças Climáticas, cuja versão preliminar já foi apresentada em setembro de 2013.

O documento serviu de base durante a Conferência das Partes (COP) das Nações Unidas sobre o Clima em Varsóvia, na Polônia, no final do ano passado. Em 1500 páginas, cientistas de todo o mundo se debruçaram sobre as bases físicas das mudanças climáticas, apoiados em mais de 9 mil publicações científicas.

"O relatório apresenta informações sobre o que muda no clima, os motivos para as mudanças e como ele vai mudar no futuro", disse Stocker.
Correções

A versão final divulgada nesta quinta é um texto revisado e editado e não tem muitas mudanças em relação ao documento apresentado em setembro do ano passado, que elevou o alerta pelo aquecimento global e destacou a influência da no processo.
"A influência humana no clima é clara", afirma o texto. "Ela foi detectada no aquecimento da atmosfera e dos oceanos, nas mudanças nos ciclos globais de precipitação, e nas mudanças de alguns extremos no clima."

Segundo o IPCC, desde a década de 1950, muitas das mudanças observadas no clima não tiveram precedentes nas décadas de milênios anteriores. "A atmosfera e os oceanos estão mais quentes, o volume de neve e de gelo diminuíram, os níveis dos oceanos subiram e a concentração de gases poluentes aumentou", diz um resumo do documento.

"Cada uma das últimas três décadas foi sucessivamente mais quente na superfície terrestre que qualquer década desde 1850. No hemisfério norte, o período entre 1983 e 2012 provavelmente foi o intervalo de 30 anos mais quente dos últimos 800 anos", prossegue.
Aquecimento dos oceanos

O grupo de cientistas também lembra que o aquecimento dos oceanos domina o aumento de energia acumulada no sistema climático, e que os mares são responsáveis por mais de 90% da energia acumulada entre 1971 e 2010.

"É praticamente certo que o oceano superior (até 700m de profundidade) aqueceu neste período, enquanto é apenas provável que tenha acontecido o mesmo entre 1870 e 1970", diz o relatório.
O nível dos mares também aumentou mais desde meados do século 20 que durante os dois milênios anteriores, segundo estima o IPCC. Entre 1901 e 2010, o nível médio dos oceanos teria aumentado cerca de 20 centímetros, diz o documento.

As concentrações atmosféricas de dióxido de carbono, metano e protóxido de nitrogênio (conhecido como gás hilariante) aumentaram, principalmente por causa da ação humana. Tais aumentos se devem especialmente às emissões oriundas de combustíveis fósseis. Os oceanos, por exemplo, sofrem acidificação por absorver uma parte do CO2 emitido.
Futuro sombrio

A temperatura global deverá ultrapassar 1,5ºC até o final deste século em comparação com níveis estimados entre 1850 e 1900. O aquecimento global também deverá continuar além de 2100, mas não será uniforme, dizem os cientistas do clima. As mudanças nos ciclos da água no mundo também não serão homogêneos neste século, e o contraste entre regiões secas e úmidas e regiões de seca e de chuvas deverá aumentar.

O resumo do texto ainda constata que a acumulação de emissões de CO2 deverá ser determinante para o aquecimento global no final do século 21 e adiante. "A maioria dos efeitos das mudanças climáticas deverão perdurar por vários séculos, mesmo com o fim das emissões."
Até outubro, o IPCC ainda vai publicar mais duas partes do relatório e também um documento final. A segunda parte será divulgada em março, no Japão, e detalhará os impactos, a adaptação e a vulnerabilidade a mudanças climáticas. Em abril, Berlim será palco das conclusões do IPCC sobre mitigação.






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