sexta-feira, 13 de maio de 2011

Aldo Rebelo e a História



Aldo Rebelo e a História

Texto de Demilson Fortes



No final dos anos 60 quando milhões de pessoas tomaram as ruas de Paris e queriam mudanças na sociedade, na política, nas relações humanas, na vida, o Partido Comunista Francês - PCF - retraiu-se, não apoiou os movimentos da rua, e não sabia o que fazer. Os milhões - estudantes, juventude, trabalhadores, intelectuais, homens e mulheres - estavam nas ruas, mas o PCF estava na sua sede, com seus intelectuais burocratas tentando entender,  decifrar o que se passava bem a sua frente. A história estava ali, aos olhos de todos, materializada em milhões de pessoas nas ruas, universidades, fábricas e praças. Ela – a história - movimentando-se como um rio caudatário furioso, arrastando a tudo e transbordando às margens que tentavam inutilmente detê-lo. Mas, os camaradas comunistas, não entenderam - a história - e ficaram tentando equacioná-la com suas velhas fórmulas pré-definidas em um manual. Sobre o momento, o filósofo Jean Paul Sartre, escreveu um texto denominado "Os comunistas temem a revolução". Após este período,PCF declinou perdendo influência, e nunca mais voltou a ter a influência que detinha anteriormente.

A história e suas circunstâncias. É preciso decifrá-la, compreender dialeticamente seus dinâmicos movimentos, conflitos, contradições, protagonistas. Na França, do final dos anos 60, a história atropelou o Partido Comunista Francês, para os quais a realidade não coube nas suas leis de bronze. Para eles, se tinha uma fórmula com roteiro e etapas definidas, queriam simplesmente que a realidade, a juventude francesa e os trabalhadores que estavam nas ruas, nelas se encaixassem. A juventude ignorou as fórmulas que queriam ter o controle e o PCF foi literalmente atropelado pela história, perdeu a influência na vida política francesa e entrou em declínio. Para Marx “os homens fazem a história, mas não escolhem as circunstâncias”, mas para ele, “é preciso forjar as circunstâncias humanamente”, e assim fazer a história de maneira consciente. Somos nós e nossas circunstâncias dadas ou criadas, com possibilidade de fazer história, ou ser arrastados por ela.

Em Brasília, na Câmara Federal, será votado o Código Florestal. É o encontro dos deputados com a história. O Deputado Aldo Rebelo (PCdoB), por ser o relator, se destacou nesse processo e é o maior responsável pelo resultado da lei que daí resultará, mas todos os deputados federais serão responsáveis pelo produto final, a ser aprovado. Espero que a história seja justa com os que fragilizarem a proteção ambiental e colocarem em risco o futuro, pensando no econômico e no imediato. As próximas gerações saberão se houve oportunidade de escolha, se caminho diferente poderia ser seguido.

Em que pese a inflexão realizada na última semana, na última versão pública do relatório de Aldo Rebelo, o concreto é o documento publicado em 2010 sobre a mudança do Código Florestal. Este relatório, bem poderia ser chamado Anatomia de uma traição histórica. Acredito que isso, seria um tratamento justo com Aldo Rebelo, com a agricultura familiar, com o movimento ecologista, com os movimentos sociais, com tantos lutadores sociais, do campo e da cidade, alguns mortos nos conflitos, como Chico Mendes e Irmã Dorothy.

Aldo Rebelo entra para a história como o comunista que se tornou ídolo do setor mais reacionário, atrasado e conservador do país, os grandes ruralistas. Na França, a história acertou contas com os que não a entenderam. Aqui, desejo e espero, que assim seja!


Porto Alegre, RS, maio de 2011.




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